Água da Vida
- zonanortejornalpoa
- 25 de mar.
- 5 min de leitura

Queridas leitoras, queridos leitores, a crônica deste mês é o Encontro com o desconhecido. Oi? Encontro com o desconhecido? Sim!!
Refleti muito sobre quais assuntos estaria compartilhado com vocês. Quando me deparo com a infinidade de temas, torna-se difícil escolher por onde começar. Prefiro sempre buscar questões que nos Inspirem e nos Fortaleçam a partir da reflexão, mas em alguns momentos é tão complexo se afastar da enxurrada de notícias tristes e pessimistas! Mas precisamos ir para além delas.
Estes dias, enquanto caminhava pela beira da praia, vi uma mãe d’água linda, cor arroxeada e fiquei pensando sobre como a Existência é diversa. Neste planeta existem múltiplas formas de vida, cada qual com a sua configuração. Não existe um Ser Humano ou animal iguais. Os cristais, a natureza, as nuvens, enfim, tudo é o que é na sua individualidade.
Apesar disto, somos interdependentes. Necessitamos uns dos outros para Existir. Desde a antiguidade, muitos filósofos e estudiosos se dedicaram à análise do Planeta e das diversas formas de vida. Algo simplesmente fantástico, pois a vida é incrível.
Quando reflito sobre isto e percebo o quanto permanecemos nos destruindo, sinto uma tristeza infinita. Gostaria que pudéssemos refletir mais e perceber que quando sairmos desta Existência o que deixamos e o que levamos será somente as experiências pelas quais passamos.
Pensando nos olhos e na pureza de tantas crianças, lembrei da música de Gonzaguinha “O que é, o que é”.
Mais especificamente, nos versos:
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças.
É a vida, é bonita e é bonita
Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz
Ah, meu Deus, eu sei, eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita”
A pureza se extingue quando as situações do mundo vão sufocando e impedindo o livre fluir da Inspiração, da Criatividade, do Afeto. Vamos recebendo tantos “nãos” ou somente “sins” que distorções ocorrem. Vamos deixando de acreditar em nós ou achando que somos os donos do mundo....
Sei muito pouco da vida. Sou uma andarilha da Existência buscando melhorar quem Sou, como ajo e o que posso realizar para colaborar na melhoria desta Casa. Qual casa? Gaia. Se olhássemos um pouco melhor a nossa volta, se buscássemos nos responsabilizar mais pelas nossas ações, aprendendo, vivendo e Sendo melhor, talvez não tivéssemos tantas guerras. Guerras que expressam a irracionalidade e a ganância por poder, ego e orgulho.
A mãe d’água, naquela manhã, com aquela cor transparente e arroxeada, cor da transformação, talvez tenha evocado em mim o desejo de que a água do mar que vem em vai, às vezes, sutil e calma, às vezes, com força e revolta, traga a potência para lavar e limpar. O movimento da vida é assim. Como as ondas do mar que encontram a areia para repousar, as nossas emoções necessitam de um lugar para se sustentar e encontrar apoio.
Quais os movimentos que estão na nossa Alma? De que forma lidamos com eles? O quanto conseguimos percebê-los e transformá-los?
Como retomar, minimamente a pureza que existe no fundo do coração? Aquela que nos permite contemplar, buscar a felicidade nas mínimas situações e nos fortalecem? As que trazem sofrimento e queimam as nossas expectativas, aquelas que permitem a calmaria?
Breve reflexões no mês que inicia com o carnaval e com o Oscar. Acharam que não ia dar uma escorregada para estes assuntos? Capaz!
Durante alguns anos escolhi passar o carnaval em lugares longe da praia onde frequento por ter experienciado momentos muito tristes, de grande desordem, onde tudo era permitido em prol da falsa alegria. Ou seja, da completa desconexão das pessoas consigo e com o seu entorno. Mas quando fiquei sabendo que o Ponto de Cultura Flor da Areia tinha organizado o bloco “Boizinho na Praia”, não tive dúvidas. Fui tentada no meu ponto fraco-forte: arte, cultura. Resolvi colocar o meu receio no bolso, dar um voto de confiança e participar. Posso dizer que fui surpreendida pelo grande público, com poucos incidentes. Penso que ainda necessitamos de consciência planetária, pois vi muito lixo nas ruas e na beira da praia. Apesar disto, tive a certeza de que é possível convivermos com a noção de civilidade (mesmo que rudimentar).
Em meio ao Carnaval, Celebramos com carinho a conquista do primeiro Oscar do cinema brasileiro. Conquista importante para um país que vem tentando retomar a arte e fortalecer a consciência sobre a cultura. O prêmio é a certeza do quanto a arte é resiliência e força. Principalmente quando, aliado a isto, o tema da conquista é um dos momentos mais complicados que vivenciamos no país. É a certeza de que necessitamos da memória para não repetirmos práticas excludentes e autoritárias. A dignidade com que Fernanda Torres circulou levando a bandeira pelo filme, mostra o quanto podemos lutar pelos nossos ideais sem desmerecer ninguém.
Eunice Paiva foi uma mulher incansável no reconhecimento não somente do que ocorreu com o seu marido, mas de práticas que causaram fissuras imensuráveis nas pessoas que as vivenciaram, transgeracionais, pois o impacto vai além do tempo. Assim como ela, quantas pessoas necessitaram buscar forças que desconheciam para seguir as suas trajetórias com dignidade. Quantas sucumbiram...
Infelizmente, no nosso passado recente, explicitou-se o quanto ainda precisamos caminhar. Receber o Oscar é o reconhecimento de uma realidade que não pode ser esquecida e sim, ressignificada para nunca mais acontecer. Gratidão Eunice Paiva e Marcelo Rubens Paiva! Parabéns Walter Sales, Selton Melo, Fernanda Torres e todas as pessoas que participaram desta conquista.
A arte possibilita a transformação de momentos complexos e difíceis. A arte regenera, nos torna resilientes e capazes de sentir através de outros prismas. É fato. A arte liberta! Liberta histórias, Reconecta experiências e emoções. Acalenta a Alma e nos Possibilita um novo começo.
Assim como aquela mãe d’água arroxeada, inerte na areia, que continuava a pulsar; a vivência de Eunice Paiva nos mostra que tudo é possível. Lembrar sobre as infinitas Possibilidades e o quanto a arte nos fortalece torna os nossos passos mais firmes. Propósitos verdadeiros que estão na nossa Alma, traçam pontos de chegada, mas os caminhos são diferentes para cada caminhante. Que possamos, mesmo diante das brutalidades da vida, encontrar a nossa pureza, a nossa Essência e que possamos Ser Capazes de Transformar o que é necessário.
Que Sejamos Luz, Paz, Sabedoria e Humanidade!

Patricia Ziani Benites
Psicóloga e escritora
Autora dos livros Tocando o Coração - Enxergando a Alma, Em busca da Alma perdida e Crônicas da Existência Vol I
Canal Youtube: Tocando o Coração Enxergando a Alma
Комментарии