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A POESIA É NECESSÁRIA

Reflexões sobre a “Dimensão da palavra” e os 35 anos de poesia de Liana Timm


Em todo amor palpita uma chama,

que se assemelha em tudo a uma língua.

Mas a língua do fogo é silenciosa.

Tão silenciosa que, para escutá-la,

impõe-se que se veja ali um rosto,

e, nele, como que delineado,

o rubro esplendor do coração.

(....)

(ARMINDO TREVISAN)


Falar de poesia é falar de palavras, elas são necessárias, mais necessárias nos dias de hoje. E estas, encadeadas, são mais do que necessárias ainda. Podem ser uma poesia. Pois assim multiplicamos sentidos, e a poesia dá outras dimensões a cada uma de suas palavras.

Começo com uma parte deum poema de Armindo Trevisan, poeta da palavra exata, a quem Liana Timm dedica seu livro “A Dimensão da Palavra”.


Liana nos explica que foi um encontro marcante há 44 anos com Trevisan que fez dela a poeta que é, sem medo de jogar fora o que tiver que ser feito, cortar e burilar para dar a verdadeira dimensão da palavra e de sua poesia.

Lançado em 2021, pela sua Editora – Território das Artes – o livro tem quase 500 páginas do peso da palavra. Estão aqui seus 35 anos de poesia.

A capa também é da Liana. Liana, como sabemos, é uma artista multifacetada. Vai da sala de aula da arquitetura ao palco do Theatro São Pedro, passando pelo burilamento da poesia.

Nos tempos do Pasquim, havia uma chamada para A POESIA É NECESSÁRIA e aquilo me marcou para sempre, e mais ainda quando entrei na Faculdade de Letras e comecei a conhecer Drummond, Quintana, Cecília, tantos/as outros/as.

No Rio Grande do Sul, onde a mulher adentrou com mais força a Literatura não faz tanto tempo assim, mas foi na poesia que elas se fizeram presentes, como no século XIX, com Revocata Heloísa de Melo e Amália dos Passos Figueiroa. Depois vieram Lila Rippol e Lara de Lemos.

Depois dos anos 1970, outras tantas surgiram. Entre estas está Liana Timm, trazendo a densidade e a dimensão da palavra. Ou seja, todos os sentidos que se possam abarcar. Porque Liana sempre tem uma “arca” consigo, cheia de mistérios, de significantes e significados.

Cátia Castilho Simon, ao nos apresentar o livro (ou os livros, porque são poemas de vários livros) nos fala da “Poética do Encantamento”. Sim, este deslumbramento com a vida, com as coisas, pois ele dá sentido múltiplo ao que escreve. Não é uma “escrita de passatempo”, pois com as lições de Trevisan ela aprendeu que é muito “suor e lágrimas” para produzir este encantamento, dando dimensão para as coisas porque na palavra que ela se encontrou.

“precioso incômodo

Que atormenta o dia

Útil agitação para um provável clique”


Mais:

DILÚVIO

o sal do leite estreita o coração palpita na maré e se retrai rouba tudo motivos improvisos e uma paixão infeliz

que tanta pressão tem o corpo!

o corpo sintoniza esse oceano de ondas ascendem rumores e alaga


Não é fortuito que Cátia cita Barthes, o mestre francês da linguagem. O homem e a mulher, nós somos definidos pela linguagem. Não preexistimos a ela.


"o que somos o que fomos cabe numa canoa furada"


Tão simples e tão profundo, quantas “dimensões”...

A professora e escritora Jane Tutikian sintetiza Liana na orelha da obra dizendo “Este Universo Liana”. Sim, Liana é a totalidade. O humano está em cada poema seu.

AUTORETRATO

de alvura translúcida não tão lúcida enquanto pele um afogamento

ao pensar arrepio de amor entendo bem e mal pedregulhos de rochas preciosas rosas sobre fundo preto preto sobre fundo rosa

canto da despassarada em névoa e me embaraço sendo eu

Se você conhece pessoalmente a Liana Timm sabe que ela é um trem que vai e vai, levando gentes com ela. Sua vitalidade é algo fenomenal.

Se vocês não a conhecem ainda, está na hora de conhecer sua poesia e suas artes.

Sua dimensão é tal que ela anda por todo o Universo, fazendo o seu e o nosso também.

A poesia é necessária, e a da Liana Timm mais do que necessária.



ADELI SELL é professor, escritor e bacharel em Direito.

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