A revolta dos palitos
- zonanortejornalpoa
- 25 de jun.
- 4 min de leitura

Enquanto respiro o ar puro, escutando o som dos pássaros, das canções de um outro tempo que o tio querido com apenas 94 anos coloca em sua vitrola e observando o rio Uruguai, sentada em uma cadeira de balanço, o desejo de escrever faz um caminho diferente em mim. Algumas vezes ensaiei a escrita e, apesar da história que queria compartilhar, pelas múltiplas atividades (algumas, imposição do cotidiano), simplesmente as palavras sumiram. Seja pelo desejo de que sumissem ou pela falta de inspiração, permaneci um período em stand-by.
Vocês já passaram por isto? No ritmo frenético da Existência, a necessidade de realizar coisas (não é à toa que uso este termo) que, às vezes, sinto sem sentido, desencadeia a necessidade de um tempo. Tempo que estou me dando neste período. Tempo em que me dedico à família e a Celebração dos 80 anos da minha mãe. Para além das obrigações que às vezes temos, nos enredamos em encargos colocados por nós mesmos. Aí é complicado. Como descansar? Lembro, como já pontuei em tantas oportunidades, parando, respirando e sentindo. Silenciando, conversando e ressignificando os momentos. Já que falo tanto sobre isto, decidi deixar o tempo fluir.
Do momento em que estava sentada na varanda e a escrita durante o trajeto da viagem foram 24 horas... Percebi que a escrita estava permeada pela situação complexa relacionada ao desligamento de muitos trabalhadores(as) durante o plantão de um hospital em um município na região metropolitana de Porto Alegre, que ocorreu há alguns dias. Novamente interrompi a escrita e deixei fluir. Respeitando o tempo e aproveitando cada momento com a família.
O tema da situação? Relações de trabalho... Tema que é o mundo. Assim escolhi pontuar que o trabalho é importante. Sermos reconhecidos pelo que desenvolvemos é gratificante. Mas é um dos aspectos do nosso trajeto. Não pode ser tudo. Podemos adorar o que realizamos, todavia é necessário equilíbrio. Quantas vezes, o trabalho se torna o cerne da vida pela necessidade, já que a desigualdade social se ampliou muito e as jornadas são duplas, triplas... Outras, é a válvula de escape de algo que não anda bem. Em alguns momentos, o trabalho é um ambiente de sofrimento, onde o autoritarismo e falta de empatia são a base.
Mas antes de descer ou subir a ladeira sobre o assunto, já que há muito o que falar sobre isto, retomo a inspiração inicial desta crônica. Ou vocês acham que eu ia deixar passar a “revolta dos palitos”? Capaz!!
Assim, digo que a revolta dos palitos iniciou há muito tempo. Uma das histórias que mais parece anedota. Daquelas que vira e mexe, lembramos. Ressurgiu num almoço de família em que uma das minhas amadas dinda e dindo estavam presentes. Até porque fazem parte desta história.
Nasce num momento de Celebração. Ano Novo de 2000. Vixi! Há 25 anos...
Naquela época, eu era uma workaholic, o trabalho era tudo para mim. O tempo com a família era escasso. Todas as minhas energias estavam focadas em plantar. Afinal, estava no início da minha caminhada como trabalhadora, num município que tinha muito o que construir e eu era instigada cotidianamente. Cada momento, um flash!
Lá estávamos nós Celebrando a passagem de ano e conquista pela casa na praia. Apesar de termos vivido uma vida lá, havíamos adquirido naquele ano.
Quantas situações aconteceram de lá para cá. Alguns de nós casaram, descasaram. Vieram os filhos, mudanças de casa, de trabalho, aposentadoria, novos trabalhos. Na minha Existência, muitas transformações. Deixei de ser workaholic, afinal a vida me ensinou que trabalho não é tudo. Aprendi a ser mais leve, brincar, rir, aproveitar cada momento, pois a Vida é, como dizia Chico Anísio, num dos seus personagens marcantes, um vapt-vupt. Aprendi que o silêncio é uma dádiva e o Amor o Elo Essencial.
Caí e levantei inúmeras vezes. Colaborei para que algumas pessoas se levantassem, participei da construção de um trabalho lindo na cidade que residi por muitos anos. Algumas pessoas importantes desencarnaram me relembrando o que é essencial.
Do que vocês, queridas leitoras e leitores lembram de todo este período? Recordam da passagem do ano 2000?
Tudo na vida segue um caminho. Vamos escolhendo quais vamos trilhar e a forma como atravessaremos o percurso. Definimos se andaremos à pesito, de bicicleta, carroça, carro... Se descansaremos em alguns momentos. Se atravessaremos como maratonistas. Se teremos consciência do percurso ou seguiremos no automático.
O tempo passa rápido. Acumulamos experiências, algumas difíceis, outras nem tanto. O elo entre todas elas são os afetos. O que nos permite guardar lembranças são os sentimentos que firmam dentro de nós tais vivências.
Neste sentido, refletir sobre como vivenciamos a nossa caminhada é essencial. Estamos em 2025. Nos últimos anos, passamos por tantas situações que nos tiraram o chão, literalmente, que estamos tendo a possibilidade de redimensionar e redirecionar a rota.
É claro que vou contar sobre o que motivou o título da crônica. Quando estávamos lembrando da nossa Celebração, durante o almoço como falei, lá pelas tantas alguém comenta “vais fazer uma crônica sobre a revolta dos palitos?” Claro! Adorei o título e já comecei a desenhar as primeiras linhas. Mas como também falei anteriormente, precisei fazer uma pausa...
Naquele dia, que estávamos curtindo cada momento, nos demos conta que não havia palitos de dente em casa. Todos nós registramos a informação. Resultado: Cada um saiu pela cidade para bisbilhotar as lojas e... todos voltaram não com uma caixa, mas com pacote de caixas. Pois é. Imaginem quantas saídas e entradas de ano passamos e o estoque estava ali.
A marca, inclusive, comprada naquela época, não faz mais palito como antigamente. Mas nós, ah! Permanecemos aquecendo os nossos corações com lembranças que trazem calor. Preferimos assim, deixar o que foi difícil nas aprendizagens e o bom esquentando a nossa Alma.
Muitas revoltas de palitos aconteceram durante estes anos, algumas afiadas e em bando, outras individuais. Deixaram marcas boas e ruins, nos permitindo Viver. Como transformamos e se transmutamos, ah! Esta é uma escolha nossa.
Que possam ter lembranças, risadas e marcas que, verdadeiramente, instiguem a cada uma, a cada um a Olhar e Sentir que tudo valeu a pena.
Ah! Sobre a Celebração dos 80 anos? Escutei alguém perguntar. Podem deixar, conversaremos mais adiante.
Que sejamos Luz, Paz, Sabedoria, Encantamento e Gratidão!

Patricia Ziani Benites
Psicóloga e escritora
Autora dos livros Tocando o Coração - Enxergando a Alma, Em busca da Alma perdida e Crônicas da Existência Vol I
Canal Youtube: Tocando o Coração Enxergando a Alma
Excelente reflexão: nós e nossa ( e minha principalmente), necessidade de " realizar coisas", de estar inquietos e agitados. Pra quê? Temos mínimo controle sobre quaisquer eventos. COMO aprender a relaxar?...e"aquietar na paz do merecimento" como diz na Oração do Tempo da Cris...ou , de ver tanta coisa q nunca vou precisar, do "Passeio Socrático" de Frei Betto . Preciso aprender.. Obg por me lembrar