Para começar a falar desta cidade da Oktoberfest gaúcha mais famosa, a festa na charmosa Igrejinha, fui ao Youtube e cliquei neste vídeo como mais uma fonte de inspiração, além dos dados que colhi com o nosso entrevistado, Valter Ribeiro:
Valter Ribeiro sempre foi um ativista da cultura em Igrejinha/RS, município do Vale do Paranhana. Agora, está na equipe da Secretaria Municipal de Cultura de Turismo da Prefeitura local.
Cidade com 32 mil habitantes, tem grande força na sua indústria de calçados.
Outra riqueza sua está em sua cultura, com forte ascendência germânica. Também recebeu muitos migrantes internos de várias regiões, compondo um forte caleidoscópio étnico e cultural. Tem três CTGs e um piquete para destacar a cultura do gaúcho. Tem dois grupos ativos de danças alemãs:
WIEDERGEBURT – Renascer
KIRCHLEINBURG – Igrejinha
Tem tradição do canto coral, com clubes históricos advindos da tradição germânica.
Erni Engelmann, falecido há pouco, produziu três volumosos livros sobre “A Saga dos Alemães” e tem em sua homenagem um espaço ao lado de uma das “ruas cobertas” (Igrejinha tem duas) chamada de Erni Engelmann Platz (Praça/Espaço).
Quem não sabia, saberá agora: Igrejinha tem uma Associação de Colecionadores famosa, com força para realizar seu 9° Colecionarte, acertada para 15, 17 e 18 de maio deste ano. Tem um encontro festivo de “carreteiros”, sim de antigas carretas, carroças, carroções. E em setembro, tem a Matearte.

E Igrejinha é famosa por sua Oktoberfest, toda ela realizada por voluntários, sendo por isso considerada a capital brasileira do voluntariado.
Todos os recursos advindos desta efeméride revertem para entidades locais e regionais.
Há uma preocupação na cidade pela recuperação e restauro da “Steinhaus” - Casa de Pedra - que fora a moradia de Tristão Monteiro, comerciante e colonizador da região.
Está tombada, assim como a Igreja Gabriel, a pequena igreja, a "igrejinha".
Igrejinha tem a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, já dito. Seu secretário é Juliano Müller de Oliveira, também vice-prefeito, um ativista histórico da cidade.

Para saber mais desta cidade, sua cultura e seus potencias culturais e turísticas entrevistamos Valter Ribeiro, que foi na gestão passada Secretário de Desenvolvimento Social e na atual gestão assume o papel de assessor direto do Secretário da pasta. Em breve, devemos falar com o vice-prefeito também.
ADELI – Qual o seu papel na Secretaria de Cultura e Turismo e como está ajudando o Secretário que também é vice-prefeito?
VALTER – A convite do Vice-prefeito, e também Secretário da pasta, Juliano Müller, assumi a função de Diretor de Cultura, sendo responsável pela direção das equipes, assessorar o planejamento e organização dos eventos e, claro, fortalecer o Sistema de Cultura que está em sua fase final de implementação, fazendo a interlocução entre artistas e as diferentes vertentes de produção cultural, desde as periféricas até as tradicionais.
A – Sua vivência da cultura e do cotidiano da cidade vem de tempos. Como, agora, enquanto gestor, pretende ligar as ações de cultura com as potencialidades do turismo?
V – Entendo que a exploração do nosso potencial turístico precisa ser fomentada, também, a partir das nossas manifestações culturais. Defendo esta fórmula, pois a Oktoberfest tornou nossa cidade conhecida nacionalmente e internacionalmente, é um atrativo significativo. Mas temos muito mais a oferecer, quando falamos em cultura, inclusive com relação à culinária e a produção de trajes e utensílios da cultura germânica e do tradicionalismo gaúcho. A lista de manifestações culturais, potencialidades de exploração associada ao turismo, é enorme.
A – Quais serão as linhas mestras da ação da SMCT e quais as prioridades?
V – A interlocução entre as manifestações culturais tradicionais e as manifestações contemporâneas, como as de matizes africanas, as tecnológicas, as trazidas pelos novos migrantes, temos um grande número de haitianos e venezuelanos, e também as culturas associadas ao esporte, serão certamente norteadoras de nossas ações.
Com relação à prioridade, a implementação e operacionalização dos equipamentos que compõem o Sistema de Cultura, e a partir disso, a organização e a capacitação dos produtores e promotores de cultura em nossa cidade, que receberam empenho de nossas energias e das nossas ações de gestão.
A – Sabemos que a cidade tem tanto um Conselho de Cultura quanto de Turismo, como esta organização ajuda na expansão e democratização de ambas as áreas?
V – Eu sou um grande entusiasta dos conselhos. Considero-os uma expressão gigante da democracia, ao possibilitar que a sociedade civil, com a mesma força paritária, possa ser consultada e em alguns casos, deliberar sobre o orçamento do órgão executivo e o desenvolvimento de políticas públicas. Isso, por si só, já demonstra que estes equipamentos contribuem para a expansão e principalmente para a democratização e a descentralização das ações e decisões nas áreas da cultura e turismo, possibilitando construções coletivas e plurais, dificultando e impossibilitando decisões unilaterais.
A – Como você vê o potencial da cultura alemã para desenvolver trabalhos na área de resgates históricos e de memória?
V – Costumo dizer que a cultura alemã é uma força da natureza aqui em nossa cidade (risos). Ela representa um sentimento de identidade e pertencimento para a população, inclusive para aqueles que não têm origem ou o sobrenome de origem germânica.
Ela está e em tudo, desde a arquitetura, antiga e moderna, até as manifestações imateriais, que só se percebe mergulhando em nosso convívio social. Aqui, vale aquela máxima “se não conhecermos nosso passado, estamos fadados a nos perdermos no futuro”. Sendo assim, ainda que tenhamos uma diversidade cultural imensa, as novas manifestações, de alguma forma, estão sempre ligadas à cultura germânica.
O CTG mais antigo, Sentinela da Tradição, por exemplo, nasceu dentro (e ainda hoje é um anexo) da Casa de Pedra que pertenceu à família de Tristão Monteiro. As bandas de música, seja de “bandinha”, sertanejo, rock e tantos outros gêneros, todas sonham em um dia fazer um show na Oktoberfest de Igrejinha, e muitas delas já fizeram, ou ainda farão apresentação em alguma das sociedades que perduram ao passar do tempo, vivas e pulsantes. Diante disso, podemos afirmar que o “agora” se relaciona ou flerta, até mesmo de forma platônica, com o passado… Isso é pura matéria para resgate histórico e construção de memórias.
A – Igrejinha é cidade-irmã de Simmern na região do Hunsrück. Como pretendem manter mais relações com a cidade dos imigrantes e em especial o seu dialeto: hunsrück?
V – A relação Igrejinha – Hunsrück é muito sólida, e mantém relações que vão além das questões culturais. Entretanto, em relação ao dialeto, pensamos em aprofundar projetos junto à Secretaria de Educação.
A – Tem ideia de que Igrejinha possa dispor para a população um calendário e roteiro destas atividades na cultura e no turismo?
V – Sim, temos essa pretensão! Tanto em nossas redes oficiais, como também em páginas de parceiros, como o rico site de divulgação cultural aqui da nossa região, o “Drops do Cotidiano”.
A – O que mais poderá nos dizer?
V – Quero, primeiro, agradecer ao amigo pela parceria e disponibilidade em trocar ideia e divulgar as ações culturais realizadas em Igrejinha. E também, convidar a todos a visitar Igrejinha e conhecer nossa diversidade cultural e nossas belezas turísticas. Serão bem-vindos e garanto que vão querer voltar.
Vai ter mais: Nossa pretensão é de, em breve, divulgar alguns roteiros turísticos e gastronômicos da região, em especial, a rota alternativa para chegar até Gramado que poucos ainda conhecem.

Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito
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