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Arte, pulsar da existência

Mais uma vez o inusitado me alcança. Em meados de janeiro não tinha ideia de onde a Existência iria me levar durante o carnaval.

Quem me conhece sabe o quanto sou, digamos, avessa a badalação – música ensurdecedora que impede qualquer conversa, algumas com ritmo que vai nos deslocando para um processo de robotização, com letras que, bah! Impossíveis de serem escutadas, pelo menos por mim. Não estou fazendo nenhum julgamento a quem gosta. Simplesmente expresso o que para mim não serve.

Assim, de alguns anos para cá, tenho tentado não me incomodar durante este período e nem tornar impossível a quem convive comigo, de me aguentar, por mais meditação e respiração consciente que eu possa realizar. Por isto, não tenho passado o carnaval na praia que frequento. Já vivi cada situação... além de ver as pessoas zumbis, o que me entristece profundamente. Quem sabe, um dia, nesta Existência, eu evolua a ponto de não me atrapalhar com tudo isto, sem me tornar normótica, é claro.

Compartilhamento de explicações à parte, um dia, conversando com minha comadre, nos demos conta que tínhamos visto a mesma programação em uma mesma empresa de turismo. Universo nos dando mensagem; sincronicidade, como nos ensinou Jung ou, simplesmente, coincidência.

Aí foi só arrumar as malas e partir. Puxa! Há quanto tempo não ia em uma excursão!! De ônibus ainda por cima!!!

Ao chegar no local de partida, várias pessoas aguardavam. Momento de aproximação. Logo estávamos na estrada. Final do dia se aproximando e as paisagens se movimentando.

Uma noite inteirinha e parte do dia seguinte dentro do ônibus. Quantas coisas tiveram o seu tempo para acontecer. Conversas, músicas, leituras (consegui levar somente um livro, já, já conto qual), sono e.... terminei a crônica que compartilhei, um tanto atrasada, no mês passado. Uma sensação..... liberdade... deixei tudo para trás. Por incrível que pareça, sai sem culpa sobre o que não havia concluído, tendo a certeza do quanto estava bem melhor. Isto porque anteriormente teria muita dificuldade em, simplesmente, deixar coisas inconclusas, em stand bay.

Vocês já sentiram assim? Feliz, em Paz e livre? É uma sensação maravilhosa! Depois de um ano muito intenso, dei-me a oportunidade de seguir em frente sem amarras. Um tempo com uma única necessidade.... aproveitar.

Durante a noite, rompemos a fronteira. À tarde, adentrávamos em uma cidade de tirar o fôlego. Ruas e calçadas largas, arquitetura de uma beleza infinita e uma grande oportunidade de desnudar a cultura expressa de diferentes formas.

Estão curiosos? Feche os olhos, respire fundo. O mistério termina. Estive no país vizinho, Argentina. País que vem enfrentando uma inflação enorme, ampliando a pobreza e jogando muitos dos seus filhos para os escombros da miséria. Inclusive, temos vistos argentinos vindo residir no Brasil.

Concomitante, também existem vários brasileiros morando na Argentina. Apesar da desvalorização da sua moeda, alguns produtos mantem-se com valores mais altos que no Brasil, ressalvando o que pude ver. Enquanto estive por lá, recordei do período que vivemos por aqui na era Collor (quem lembra o horror da inflação!!! Fora as outras cositas...) e, recentemente, com o “inominável”. Assisti um debate com governantes das províncias, onde em alguns momentos pensava, mas estão falando da Argentina ou do recente Brasil?

Mas não vou me atrever a entrar nesta seara, pois o que desejo é compartilhar é sobre a diversidade cultural.

É claro que vou iniciar pela Livraria El Teneo. Simplesmente maravilhosa. Aliás não estou falando de nada mais, nada menos do que a Livraria que foi considerada em 2008 pelo The Guardian, como a segunda mais bonita Livraria do mundo e em 2019, pela National Geografic, a mais bela do mundo. Não é à toa.

A Livraria está localizada no Bairro Recoleta em um prédio histórico que, originalmente, foi o Teatro Grand Splendid construído em 1919. Pinturas espalhadas pelo teto, paredes esculpidas maravilhosamente, palco que abriga um café e milhares de livros organizados em quatro andares. Sem falar nos dvds, vinis e, pasmem!!! Fita cassete! Isto mesmo!!!. Enquanto no Brasil, muitos destes espaços estão à mingua (lembro de um local excepcional que existe em Três Coroas e que, hoje, resiste em um espaço bem menor e somente colecionadores tem acesso ao imenso acervo, pois não está mais disponível para todos que frequentam o lugar); lá há espaço para todos os gostos. Imaginem “euzinha” sanzando entre prateleiras, corredores, espaço infantil.... uma criança imersa em uma grande casa de brinquedos...



Este foi, apenas um dos locais maravilhosos que percorri. Me deparar com tamanha arte foi como receber um imenso jarro de Luz para o ano. Isto porque, por aqui estamos tentando juntar alguns cacos espalhados pelo ar. Vivemos em uma sociedade que insiste em apagar a história e nos coisificar, nos retirando o que é singular. Pior, capturando quem somos, verdadeiramente, e nos transformando em seres iguais, rasos e que têm dificuldade em refletir e.... sermos Seres dotados de desejos (profundos, só para reforçar).

É triste pensarmos na energia que deszprendemos para termos protagonismo na nossa caminhada... Mas o esforço vale cada passo. Resistimos, alguns de nós, e insistimos em potencializar a arte, fortalecer a cultura como essencial na nossa trajetória. Mas quantos de nós, busca estímulos para sermos Resilientes?

Não precisamos ir a Buenos Aires para descobrir que apagar a história (uso aqui o exemplo da fita cassete e dos prédios antigos e conservados), é negar parte de nós. A liquidez da sociedade (lembrando Bauman) nos torna frágeis, líquidos no deslizar o dedo pela tela do celular....

Não adianta, também, termos uma capa glamurosa, linda, se internamente, não há conteúdo.... (escrevendo isto, minha mente encantada se deslocada para o prédio do El Teneo, imaginando-o sem os livros, vinis, cds, dvds, fitas cassete e....  as pessoas. O prédio continuaria sendo admirável, mas sem nada para ofertar, sem energia para circular....

Sabe, sempre quando começo a crônica, jamais sei como vai transcorrer. Nesta, por exemplo, imaginei em compartilhar muito mais... A história emblemática e importante da Plaza de Mayo, onde hoje, no entorno do Monumento do General Manuel Belgrano, encontram-se pedras deixadas por familiares e amigos de pessoas vítimas da COVID; a Catedral Metropolitana (a segunda que me fez chorar pela energia e beleza e história); Casa Rosada; El Caminito; os inúmeros museus; a cidade de Tigre e tantos outros locais. Mas por hoje, prefiro compartilhar a simbologia de El Teneo.

Mas antes de concluir, falei da diversidade cultural..... Conhecemos, até, o Floreria Atlantico Bar..... Ah! Quem diria que entre aromas, cores e formas, ao adentrar na floricultura, após uma longa espera, uma porta enorme é aberta pela recepcionista (que também cuida das flores) e uma escada nos leva para o subsolo... Gente, lembro de ter entrado em um lugar assim lá em 2010! Olha, mais uma vez, o inusitado.

Mas como nos passos de um tango, facilmente visto em algumas ruas de Buenos Aires, desejo que possamos ser capazes de olhar a nossa volta e se encantar. Se encantar pelo que temos a possibilidade de enxergar, escutar, sentir.... e que não seja somente um envoltório, uma carcaça, mas que tenha o conteúdo necessário para nos Fortalecer.


A Existência pode ser difícil em alguns momentos, mas não precisa ser somente construída por dor e sofrimento. Cabe a nós, encontrar o que nos torna mais Potentes, Leves, Equilibrados.... A Sabedoria está em sentir e ultrapassar as dificuldades. Podemos escolher ser a dançarina ou o dançarino que escuta o som, desperta o movimento e deixa se embalar pela rua, sendo percebido ou não pelos demais. Não importa. O que é Essencial é que possamos conduzir os nossos passos com a Alma, com o Divino que Habita em cada uma/um de nós.

No último respiro da crônica, conto qual o livro levei....... Heidi. Um livro genial, que encontrei em um sebo no dia do meu aniversário e que trouxe a minha memória o nome de um desenho que assisti quando pequena e que tentei lembrar no ano passado. Olha o inusitado me encontrando novamente e que me possibilitou assistir vários episódios durante a viagem.


Que sejamos Luz, Paz e Sabedoria!


Patricia Ziani Benite

Psicóloga e escritora

Autora dos livros Tocando o Coração - Enxergando a Alma e Em busca da Alma perdida 

Canal Youtube: Tocando o Coração Enxergando a Alma

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4 Comments


serbrati
Mar 05

Coincidência Patrícia, estou lendo seu artigo aqui em Buenos Aires, obrigado pelas suas reflexões

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Que maravilha!!!! Aproveita!!!

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Lb Lb
Lb Lb
Mar 04

Parabéns pela crônica com tanta sensibilidade!

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Gratidão!!!

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