Semana passada, postei no face book o seguinte: “Quem se expõe nas redes é por narcisismo; quem se esconde também!”.
Isso disparou um interessante debate conceitual, a maioria se posicionou num sentido popular e restrito. Então senti a necessidade de falar no campo da psicopatologia e na visão psicanalítica.
Freud parte do mito de Narciso que morre afogado num lago, na contemplação de sua imagem. No seu texto clássico, “Introdução ao Narcisismo”, 1914, Freud traz uma importante reflexão: “É bem verdade que o narcisista é aquele que muito se cuida, mas quem não ama adoece”.
Nisso fica marcado o quanto o narcisismo primário, quando predominante, exclui o outro, diferente quando é secundário.
A discussão teve uma tendência à generalização que patologisa a questão narcísica.
Temos no DSM-V, a classificação do Transtorno de Personalidade Narcísica, quando a demanda de reconhecimento é exagerada em tudo (Que não pode ser confundida com o TPA, transtorno de personalidade antissocial cujo grau de narcisismo é alto, sem empatia, em desconsideração à lei e à segurança do outro)
A psicanálise não trabalha com conceito de Personalidade, mas om o diagnóstico estrutural (neuroses, psicoses, perversão. Ainda é recente a consideração do Transtorno do espectro Autista se visto como uma quarta estrutura)
Na constituição do sujeito psíquico, Lacan vai colocar a importância do investimento narcísico dos pais para o ego corporal, para a saúde mental da criança e sua autoestima.
O exagero é ruim em qualquer estrutura, inclusive prejudicando o sujeito desejante que pode ficar alienado ao desejo do Outro, favorecendo uma psicose. A falta desse investimento, subjetivamente, favorece ambientalmente o Autismo, ainda que exista a sua classificação, no DSM-V, como um “Transtorno do neurodesenvolvimento”.
O perverso terá um investimento e uma identificação narcísica que desmente a lei e goza subjugando o outro.
O narcisismo perverso foi o que nos regeu, numa vitrine de mentiras, angariando simpatias a ele identificadas com uma ideologia nazifascista que humilha e desinveste na vida e nos direitos humanos.
Nós, neuróticos, todos somos narcisistas, pois demandamos reconhecimento. Repito: em que nível? Se ultrapassarmos as fronteiras do transtorno, podemos ir para um campo psicopatologicamente grave.
Se um like sempre atende essa demanda geral, que também é de amor, o que dizer daqueles que sempre convocam o nosso, mas não retribuem? Bem, nunca, me parece demais! Agora, não viver sem curtidas, diz, quem sabe de uma demanda de reconhecimento, de autoestima, que talvez venha de outros investimentos na vida pessoal e profissional que não foram feitos, mas deslocados.
Também um alerta: sintomas como só falar e não ouvir; pedir e não retribuir, desqualificar demais sem reconhecer o que o outro faz de bom, etc., inspiram cuidados.
Quem sabe, diante do espelho que nos retorna não só imagem, tudo isso, seja passível de reposicionamento. Muitos excessivamente narcísicos, não admitem nem sua dor, ou a sua dor é a mais “top”. Porém, quando tiverem coragem que busquem uma psicoterapia de apoio. Nós, do Psi-psicoterapia online, estamos a postos, nas mesmas redes.
Nesta semana, o narcisismo. numa plástica facial, do ator Stênio Garcia e a seminudez da cantora Iza com o namorado incomodaram os narcisistas com seus padrões estéticos e morais. Aí tem um elemento de crítica narcísica que não releva o que cada um dos artistas busca e pensa dos seus atos. Stenio, provavelmente, buscava um suporte à sua autoestima. Iza, por sua vez, cantora bela e de sucesso, voluntariamente exibe de modo nada pornográfico seu corpo, que não se afigura de modo apelativo.
Em tempo: bom lembrar que Freud tirou a questão narcísica vinculada à Perversão na questão da homossexualidade. E o orgulho e luta continuam: a comunidade LGBTTQIA+ tem sua demanda narcísica de aceitação e respeito. Buscando as empatias e simpatias, no próximo dia 1º de julho, estaremos com “A primeira Feira e Baile da diversidade, com empreendedorismo, cultura e arte, das 15h às 22h na Praça Brigadeiro Sampaio, Porto Alegre.
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, debatedor do “Café com Análise”)
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