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Convivência em sociedade

Atualizado: 9 de abr.

- Se te incomodas com uma festinha que meu filho está fazendo, com um sonzinho, devias saber que estás morando no Centro.

A fala retumba nos ouvidos de Maria por muito tempo. Não entendia como alguém poderia responder desta forma ao informar um pai que o seu filho estava muito além dos limites, já que a música ecoava no espaço como se estivesse em um show ao ar livre. Aliás, o única som que se escutava a quilômetros...

Pensava que a sua intenção, através da cordialidade e da forma de expressão, era trazer a consciência daquele pai e, consequentemente, daquele filho.... ilusão.

A convivência em uma sociedade deveria ser a de respeito, de consciência sobre o meu desejo vai até onde o do outro inicia. Mas como equilibrar? Eis a questão. Em uma sociedade narcisista, onde há dificuldade de percepção, limite e falta de empatia, torna-se difícil seguir o caminho do bom senso.

Maria lembrou de situações ocorridas com aquela família e pensou... Refletiu, também, que quando as fronteiras não são estabelecidas desde criança, é complicado o equilíbrio no futuro... Mas a aprendizagem sempre é possível. Podem acontecer muitas situações que podem construir fronteiras de uma forma ou de outra e, às vezes, o processo é sofrido. Já te deparaste com situações assim? Seja na tua experiência de vida ou de ver acontecer com outras pessoas? Como lidaste? Como sentes que é o teu relacionamento interpessoal? Como lidas com os limites?

Momento de respirar...



Quantas vezes nos deparamos com situações em que o que mais queremos é o equilíbrio, conversa e aprendizagem mútua. Mas nem todas as pessoas estão preparadas para conversar.

Ã! – Podem pensar. Calma! Já explico.

Muitas vezes, quando estamos conversando, acabamos querendo imprimir o que pensamos com quem estamos falando. Bem, imaginem. Se cada pessoa quer impor o seu pensamento, estamos competindo. Geralmente, estamos armados, com todos os escudos possíveis para se proteger. A simples conversa acaba sendo o espaço de “quem chega primeiro”. Se alguém precisa ter razão é por que nos perdemos na poeira...

Poeira que, às vezes, nos impede de enxergar claramente as situações. Apesar de que podemos, também, ao perceber a poeira, limpar os olhos, colocar um colírio, limpar o nariz, dar uma sacudida no corpo.... a poeira pode ser uma possibilidade de percepção, depende de cada pessoa.

O que nos impede de mantermos uma conversa? Podemos avaliar várias questões, mas reflito que somos marcados para nos protegermos (o mundo é ruim!), para sermos fortes e termos resposta para tudo, além de termos, sempre, a razão. Para mantermos uma conversa, precisamos deixar a vaidade e o orgulho de lado. Quando nos livramos da prepotência, torna-se mais simples a convivência e não precisamos ter a última palavra.

Mas... a pergunta que não quer calar... É fácil? Ah! Muito longe... Outra pergunta... É possível? Na minha humilde opinião sim.

Aprender a falar e a calar é uma Aprendizagem essencial. Saber entrar e sair do palco da Existência é uma construção permanente.

E, voltando ao início do percurso, quanto mais cedo pudermos aprender sobre convivência, respeito, empatia, mais conseguiremos transmitir para outras pessoas e para as crianças. Apesar de que muitas crianças têm sido grandes mestres. Algumas estão nos surpreendo com falas e atitudes que nos cabe, apenas aprender. Outras necessitam de um "contorno", aprender sobre limites para não se tornarem adultos incapazes de saber até onde podem ir.

Lembro muito disto quando vejo pessoas com seus carros com música altíssima para... os outros escutarem, pois se fosse para si, não teria a necessidade de estar tão alto. Ou aquelas confraternizações em que a música é tão alta que o que menos se quer é contato com as outras pessoas. Continuamos vivendo em uma sociedade onde grande parte das pessoas perderam a noção de civilidade, na ilusão de que tá tudo bem. Não está.

Finalizo esta crônica-desabafo com o desejo de que possam refletir sobre estas questões e possam entrar na conversa, para que possamos ampliar a nossa percepção e sermos, cada vez mais, Humanos. E que, assim como as fotos que compartilho neste mês, possamos encontrar o sol, o farol e o céu claro, apesar das nuvens...



Patricia Ziani Benite

Psicóloga e escritora

Autora dos livros Tocando o Coração - Enxergando a Alma e Em busca da Alma perdida 

Canal Youtube: Tocando o Coração Enxergando a Alma

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4 commentaires


Crônica belíssima. Mundo muito ruidoso e não nos ouvimos, e nos perdemos no "sociedade do espetáculo". Longo aprendizado

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Gratidão Robson!!

Tens toda a razão. Uma sociedade onde temos dificuldade em nos escutar e enxergar, onde o externo precalece sobre o interno e onde vamos deixando de Ser Humano.

Mas vamos pensar que quando conseguimos refletir um pouco sobre isto e buscamos melhorar alguns aspectos na nossa caminhada, já damos um grande passo para uma sociedade melhor.

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Essa crônica da Patrícia mexeu com meu cardíaco, lembrei de varias situações vividas e ou observadas, hoje evito esse tipo de embate com pessoas que não querem ouvir, digo embate pois a conversa se torna impossível na maioria das vezes, mas me questiono se é o certo se calar e suportar ou se tentar se comunicar é o caminho, na verdade sei a resposta, apenas tento me poupar ...

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Gratidão por compartilhar o que sentiste!

Cada uma de nós encontar o seu ponto de equilíbrio e aquilo que é possível de manifesto naquele momento. Que bom quando o nosso cardíaco pulsa e pode nos mostrar consciência fora da normase do cotidiano. É sinal que há Vida e que, talvez, tenhamos o olhar um pouco mais além do que o nosso umbigo.

Quando refletimos é encontramos resposta, temos um caminho.

Se ainda não temos, mas refletimos é um grande começo.


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