_ Hoje eu preciso falar... Palavras que ecoam pelo ar...
_ Mas sobre o que queres falar? Responde a outra voz.
_ Eu estou sufocada... triste e preciso contar.
_ Ah! Entendo. Então fale!
_ Há muito tempo estou sendo deixada de lado. Muitas vezes, já chorei, já gritei, já ardi em brasa, já me desmanchei... Mas ninguém prestou a atenção. Continuaram não olhando para mim.
_ Me fale um pouco mais para que eu possa te entender.
_ Arrancaram minhas pernas, braços. Me deixaram sucumbir. Me entupiram de gases que impediram, e continuam me impedindo, de respirar. Passaram com suas rodas sobre mim. Expulsaram todos os meus amigos e amigas. Me empurram e, continuam me espremendo e às vezes, eu não consigo me controlar.
_ Já me senti assim, mas confesso que estou bem. Abriram caminhos para mim, moro em um lugar lindo e consigo ver os outros lá embaixo. Tudo que preciso, trazem. Já que necessito de espaço.
_ Eu também! Responde com tristeza a voz. Ao falar, pensa: _ Não entendeu nada. Quando eu serei ouvida?
_ Mas tudo fica bem. Não te preocupa! Eu também quero te contar o que anda acontecendo por aqui. E, aquela voz, começa a falar expressando a sua incomodação.
_ Bah! Viste o que aconteceu com todas estas chuvas? Algumas pessoas morreram, outras perderam tudo! Até me perguntei por que isto. Aqueles que acreditam, falam tanto em Deus. Mas onde ele estava que permitiu isto?
_ Pois é... às vezes se usa o nome de Deus... Mas toda a ação tem uma consequência. Por que não pensamos antes de agir? O que faz com que as decisões que possamos tomar não leve em conta o ambiente e tudo a nossa volta?
Então, Pare, Respire, Sinta.
Com esta questão, entro no ponto central da crônica deste mês. Confesso que demorei para construir a reflexão que hoje compartilho com vocês.
Passamos um mês de setembro bastante complexo e difícil no RS e entramos no mês de outubro experienciando situações parecidas em Santa Catarina. Sem falar em todas as demais questões que estão ocorrendo no planeta, as quais deixo, quem sabe para uma nova oportunidade.
A inspiração por esta crônica surgiu quando uma amiga comenta comigo sobre um post das redes sociais onde a natureza pedia desculpas pelo que ocorreu no Vale do Taquari. Vinha pensando que deveria conversar sobre isto aqui. A nossa conversa fortaleceu o meu desejo e desenhou o início do caminho. Infelizmente, procurei, mas não encontrei o post.
Há muitos anos tenho defendido o cuidado com a natureza. Me preocupo, como tantas outras pessoas, com a forma com as construções tem sido realizada. A exploração imobiliária, assim como tantos outros interesses que pouco se preocupam com a população é evidente. A pouca discussão sobre as questões ambientais e o impacto na vida das pessoas são uma realidade.
Convivo com um município, onde o rio corta a cidade e está localizada em um vale. É triste ver o desmatamento desordenado (se é que existe desmatamento ordenado). Morros sendo destruídos, sendo tomados por construções, asfalto. Prédios altos que, futuramente, impactarão na qualidade do ar, juntamente com as demais questões.
É impressionante como os governantes lidam com tais situações. Parece que só enxergam o impacto quando há desastres. Mas aí, a culpa é toda da natureza... Negam a sua responsabilidade no processo. Populações que não possuem a compreensão necessária e que são impedidas, algumas vezes, de escolher.
Sim. A natureza pede passagem. Em um planeta com emissão de gases poluentes, aquecimento global, consequentemente, derretimento de geleiras; produção de lixo sem a destinação correta (é concebível em pleno 2023, ainda inexistir separação de lixo em alguma cidade?); mudança de leitos dos rios... há consequências. O clima, claro, completamente instável.
Sim. O planeta pede passagem. Necessita Respirar...
Podem estar pensando como esta crônica está diferente das demais. Com certeza!
A poesia que muitas vezes desfrutamos através do céu, das flores, dos sons, nos últimos meses, nos fez descortinar uma realidade que podemos tentar colocar embaixo do tapete. Mas quando há muita poeira, o tapete pode se deslocar e jogar na nossa face tudo que insistimos em deixar invisível.
Então, Pare, Respire, Sinta.
O que está ocorrendo também é fruto das nossas ações.
A expansão das construções deveria ser uma preocupação dos governantes e da população em geral. Deveríamos escutar mais os ambientalistas, permitir que a Alma do Planeta pudesse pulsar livremente. Infelizmente, não temos informações suficientes e as questões econômicas ditam as regras, mascaradas de desenvolvimento. Sinto em repetir o que muitas pessoas têm dito. Não há mais tempo.
Quando vejo o que está sendo feito com áreas que deveriam ser de preservação seja em Porto Alegre ou outros locais, sinto-me triste. Não gostaria de entender e muito menos saber, como trabalhadora de saúde, que por muitos anos desenvolveu epidemiologia, o que pode vir a ocorrer se não minimizarmos impactos. Já que há ações que não temos como voltar atrás.
É interessante como a construção de prédios cinzas, sem cor e, portanto, sem vida, são chamados de modernos. E, enquanto algumas pessoas são jogadas às margens das cidades e vivem em morros pela necessidade e desigualdade social, outras realizam as suas construções exaltando as suas condições econômicas.
Há vários lados nesta moeda... O importante é conversarmos sobre isto. Participarmos mais efetivamente dos espaços que pensam e estruturam as cidades,
Volto ao início da crônica de hoje. No jogo de palavras, expressões de sofrimento. De um sofrimento que é de todas e todos nós.
Então, Pare, Respire, Sinta...
Que possamos fazer do sofrimento uma real aprendizagem...
Sejamos Luz!
Patrícia Ziani Benites
Psicóloga e Escritora
Canal no YouTube: Tocando o Coração Enxergando a Alma
Exatamente querida Magda! Estamos atrasados e.... não há mais tempo..... Muitas vezes somos omissos e permitimos que aquele lugar que deveríamos cuidar, seja destruído. gratidão!
É uma questão urgente e crônica de nossos tempos e para o futuro, daí ser muito apropriada para o gênero crônica. Peço permissão para um breve comentário sobre palavras que me tocaram quando se menciona a culpa de Deus ou a culpa da natureza. Veio-me a mente, como criatura que ama a criação e um Criador que é Amor, as palavras proféticas em Romanos 8-19,23: "Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. / Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. / Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa…
Sim. Já é tarde e vem chuva. Estamos atrasados e cegos pelo dinheiro e desenvolvimento não planejado das nossas cidades! É triste, mas todos nós pagamos o preço, uns por ações mal planejadas e outros, e aí se inclui todos, inclusive eu mesma, pela omissão.