No início deste ano, lembrando para não esquecer, tivemos o caso de “Escravidão Contemporânea” de 207 baianos em plena vindima de Bento Gonçalves, rico município da Serra gaúcha. No mesmo mês de fevereiro foi resgatado um grupo de uma plantação de arroz para sementes de uma multinacional em Uruguaiana.
Já durante a pandemia, em 2021, lemos notícias de que o resgate de escravizados nos cafezais aumentou, e isto que a fiscalização andava brecada. No caso, passou de 106 casos em 2019 para 140 em 2020. Setor líder com 3.042 trabalhadores resgatados.
Em 2022, Minas Gerais é mais uma vez a campeã no escravismo moderno: em 117 ações, 1.070 pessoas foram libertadas.
Dados de 2023 dão conta que, em apenas um semestre, foram resgatadas 1.443 pessoas em situação análoga à escravidão entre 1º de janeiro e 14 de junho deste ano.
Já outros dados deste ano dão conta que são mais de 2.500 casos.
São caos e mais casos. Situações de pessoas comendo comida estragada, morando no meio de produtos agrotóxicos, passando frio em colheitas. Imagina um nordestino chegando a Santa Catarina como vimos descalço, calça e camisa num frio escabroso do Sul.
São mulheres que passaram uma vida inteira em “casas de família”, abonadas, ricas sendo trabalhadoras em tempo integral sem nunca ter ganhado nada. Muitas de fato sequestradas de suas famílias.
Num caso recente uma idosa pobre de 90 anos cuidava de uma idosa rica de 101 anos.
É a Banalidade do Mal perpassando nosso país que quer continuar escravocrata, que rompe com os desígnios da dignidade da pessoa humana.
Por isso, as centrais sindicais e as federações de trabalhadores deveriam ter como foco este combate e fazer campanhas em nível nacional.
O Ministério do Trabalho, as fiscalizações das autoridades do mundo do trabalho, sem as amarras do passado recente, tem agido e feito um trabalho que está sendo exitoso.
No entanto, a imensidão do Brasil esconde muito mais do que estamos relatando.
Por isso, continuo a espalhar meu livro “Escravidão Contemporânea – o caso da serra gaúcha” por aí, com debates.
Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito.
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