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História da Zona Norte - Cap. 1

Atualizado: 7 de jul. de 2022

A partir de hoje, publicaremos capítulos da História da Zona Norte de Porto Alegre. Quem nos leva por essa viagem no tempo é Cristiano Fretta, que reconstrói detalhadamente a história dessa região tão importante da nossa capital.

Índia Obirici da tribo dos Tapimirins - Imagem do site WCAMS


A Zona Norte antes dos bairros

Os primeiros habitantes da região que corresponde a Porto Alegre eram caçadores-coletores nômades. Vinham dos campos abertos do pampa e viveram há pelo menos três mil anos na região do Guaíba. Os sítios arqueológicos que provam a presença dessas pessoas encontram-se no Lami e em Itapuã, em Viamão. Essa população foi expulsa e desagregada pela vinda dos tupi-guaranis, que, por diversos fatores, desceram a região do Amazonas em direção a outras terras, sempre em busca da “terra sem males” de sua mitologia. Chegaram às margens do Guaíba entre os séculos IX e X.

Os guaranis ocuparam toda a região da atual Porto Alegre, e, dessa forma, foram os primeiros habitantes da zona norte. Em virtude da densa urbanização, não há nenhum sítio arqueológico na região, mas há várias referências aos tupis na extensão de toda a várzea do rio Gravataí (onde está hoje o aeroporto) e na região do Passo da Areia e São João. “Tapimirins” era o nome pelo qual a tribo tupi-guarani que habitava a atual zona norte era conhecida - e é este o povo que empresta a lenda de Obirici ao famoso viaduto no Passo da Areia. Há, inclusive, referências de que, no local em que hoje se encontra a Igreja São João Batista, marco fundamental para o bairro São João, localizava-se a oca de um cacique tapimirim.

Dessa forma, antes da abertura de qualquer rua ou traçado urbano, ou mesmo da chegada dos portugueses, a região da atual zona norte era habitada por uma cultura completamente distinta da nossa. As ocas eram choupanas coletivas, ovais, feitas de troncos e cobertas de palhas. O número de ocupantes variava entre 12 e 24 pessoas. Os homens pescavam no Guaíba e nos riachos, e dessa forma, a região entre o rio Gravataí e o Guaíba deve ter sido muito fértil para este fim. A região da várzea do rio Gravataí sempre foi reconhecidamente alagadiça (ainda hoje, os inúmeros alagamentos da Sertório não deixam de ser reflexos disso), e é provável que a habilidade de caçar capivaras, ratões do banhado, entre outros animais, tenha sido executada na zona mais baixa do atual bairro São João.

É muito interessante também pensarmos na quantidade de relíquias arqueológicas que devem estar soterradas sob o concreto da zona norte. Os cemitérios, aliás, ficavam sempre perto das casas, e é provável que, ao passarmos pela Assis Brasil ou Sertório, por exemplo, estejamos a poucos metros acima de verdadeiros tesouros de outras eras, que provavelmente nunca serão desenterrados.

Até o século XVI, pouquíssimas embarcações se aventuravam pelas águas do Rio do São Pedro, nome pelo qual a Lagoa dos Patos, Guaíba e Rio Jacuí eram conhecidos. A procura de ouro e prata - o verdadeiro interesse dos colonizadores portugueses - acabou por dispersar, fragmentar e jogar as populações indígenas umas contra as outras. Como consequência de litígios que eram propositalmente fomentados pelos portugueses entre diversas tribos, houve o aumento gradativo da exploração da mão de obra escrava indígena: os portugueses trocavam com tribos “amigas” roupas, tecidos, chapéus por índios cativos de outras tribos. Pelo oeste, por meio dos rios Ibicuí e Jacuí, vieram os missionários espanhóis, que estenderam sua catequese até a foz do Rio Pardo.

Também nessa época, vários jesuítas portugueses desceram do território da atual Santa Catarina em direção ao Rio Grande do Sul. Eles chegaram a fundar nove núcleos próximos ao litoral, mas não lograram êxito em tentar conter o processo escravista. Dessa forma, não é de se estranhar que praticamente não haja registros de contato entre a população indígena e os portugueses, pois os tapimirins não habitavam mais a região quando os primeiros tropeiros vindos de Laguna chegaram à atual Porto Alegre.


Cristiano Fretta é escritor, professor e músico.

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1 Comment


O Viaduto Obirici foi inaugurado em 1976 pelo então presidente militar Ernesto Geisel. Estive presente na inauguração eu tinha 10 anos de idade e o grupo Escolar Gonçalves Dias. onde estudei no antigo primeiro grau hoje ensino fundamental , foi na inauguração .

O laguinho onde tinha tartarugas e peixes hoje está desativado e sujo.

Poucos sabem que o valão nas proximidades do viaduto e da Escola técnica Cristo Redentor é o antigo arroio da areia que originou o nome do bairro passo Dareia

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