O dia era 3 de agosto de 1971, logo pela manhã a cidade ficou perplexa com as notícias. A rádio gaúcha já transmitia direto do Aeroporto Salgado Filho, na zona Norte de Porto Alegre. Em toda a cidade a expectativa era enorme.
O repórter Otálio Camargo ligou diretamente do Aeroporto Salgado Filho para informar a Rádio Gaúcha que o avião Avro da Varig, prefixo PP-VDV, que tinha como destino Bagé e Livramento, e que decolara às 7h30min de Porto Alegre, estava retornado para tentar um pouso de emergência. Tinha a bordo 14 passageiros e quatro tripulantes.
A rádio Gaúcha transmitia tudo em tempo real: um problema técnico transformou aquele dia, até então normal da capital gaúcha. O drama durou seis horas, milhares de pessoas foram acompanhar de perto, quem não foi, estava totalmente ligado no radinho acompanhando toda a movimentação.
Após a decolagem, o comandante Paulo Survilla, então com 33 anos, ao dar o comando de recolher o trem de pouso, em seguida uma luz vermelha acendeu no painel do avião, alertando que não estava correndo tudo bem. Depois de várias tentativas infrutíferas, não teve jeito o trem de pouso dianteiro não poderia ser usado no pouso, isso faria a fuselagem do avião servir de rodas, com riscos sérios como explosão. Mas não tinha outra opção, o comandante voltou para Porto Alegre, por apresentar melhores condições de segurança, pista mais extensa e maior infraestrutura, outra providência essencial era gastar o máximo possível o combustível para minimizar o risco de fogo com o toque no solo.
O piloto avisou a torre de controle que sobrevoaria a cidade até consumir todo o combustível.
O serviço de radioescuta da Gaúcha colocou no ar os diálogos do comandante Paulo Survilla com a torre.
Piloto: não consegui solucionar o problema e nós vamos tentar o pouso sem as rodas.
Confirme as condições de vento, por favor, câmbio.
Torre: vento de 340 graus em velocidade de 15 nós. Possivelmente vocês iriam pousar na dois oito, entendido? Câmbio.
Piloto: certo, certo, obrigado.
Torre: gostaríamos de te perguntar a hora prevista do pouso, pois os carros de bombeiros estão sem rádio e nós teremos que avisar.
Piloto: eu estou prevendo aí pela uma e meia, tô com 1.200 libras de combustível.
Torre: fica a teu critério.
Piloto: então fica combinado para a uma e trinta. Eu em breve já irei para o circuito, preparando os passageiros para toda a situação. Obrigado!
O tempo ia passando e a tensão aumentava cada vez mais. A presença dos bombeiros, ambulâncias, jornalistas, parentes e populares dentro e fora da estação de passageiros, todo esse cenário contribuía para o clima de expectativa.
Finalmente, depois de horas de angústia, o avião apareceu no céu e iniciou a aproximação, dando uma volta de 180 graus e descendo contra o vento, perto do solo, o piloto corrigiu a descida deixando a aeronave em paralelo com a pista.
“Porto Alegre… O Delta Vitor está dentro da dois oito…”
O silêncio era absoluto, as rodas das asas, abaixadas corretamente, tocaram suavemente o solo, enquanto deslizava pela pista. O avião levantou a cauda e começou a raspar a fuselagem dianteira no asfalto, sulcando a pista. Lentamente ele foi parando, e logo o silêncio deu lugar a gritos e salvas de palmas ao comandante herói.
O Comandante e herói Paulo Survilla logo após o pouso ainda falou para a imprensa afirmando que tudo correu bem com a devida colaboração dos passageiros que em nenhum momento demonstraram pânico a bordo, acrescentou ainda, que dentro de qualquer profissão existe o perigo ocasional e que já estava pronto para a próxima viagem.
Texto de Paulo Pruss
Fotos: Lamas e Nagassawa, BD, 3/8/1971
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