A Política que atravessa Partidos X Movimentos
- zonanortejornalpoa
- 20 de jul.
- 3 min de leitura

A política que é exercício de poder não é restrita aos espaços institucionais, sendo objeto da sociologia, da filosofia, da psicologia social, tendo questões subjetivas e objetivas que permeiam os relacionamentos de todos os grupos. Vou trazer o foco na relação entre os atravessamentos de olhares partidários nos movimentos, em especial o que eu mais atuo: o Lgbtqiapn+.
Inegavelmente, como dizia Marx, numa sociedade dividida em classes, o poder da superior está em todas as instituições. Também é observável mesmo nos sindicatos e movimentos que têm pautas próprias. Em relação à diversidade sexual, procuro sempre ancorar minha fala e ações dentro do teoricamente unificador: o combate a homotransfobia, num país que mais nos mata, luta por direitos civis, consolidar como estatuto de lei ao o que provisoriamente garantem jurisprudências, como o casamento homoafetivo, etc.
O nosso movimento vem avançando na amplitude das pautas como o fim da Jornada 6/1 encabeçada pela Deputada Erika Hilton do Psol, cuja liderança ganha até elogios de nosso governador Eduardo Leite. Esta pauta foi o mote de nossa parada de luta lgbti+ de Porto Alegre, apresentada e coordenada pelo ativista e advogado Roberto Seitenfus.
Ora, alguns defensores da “não partidarização” do movimento alegando, serem nossas pautas “humanitárias, não partidárias” (eu priorizo muito isso), não podem esquecer, queiramos ou não, que o recorte de classe existe! As gestões devem ser questionadas na sua atuação pelo bem da relação ao meio ambiente, cultura e direitos sociais.
Então, a primeira vereadora travesti eleita, Natascha Ferreira (PT-RS) não deveria ter palavra na Parada, em nome desta ser apoiada pela Prefeitura de Porto Alegre? Onde está o espírito democrático e o humanismo? Afinal, nosso movimento aqui teria que ficar alheio à venda por troco de banana de nossa Usina do Gasômetro, ficar muda diante da corrupção, da ameaça de Privatização do Dmae? Natasha foi firme, ocupou espaço e ainda falou de nossa soberania e da necessidade da reeleição de Lula como Presidente em 2026.
Ainda assim, como militante Lgbt+, sinto-me inserido nestas buscas com as demandas específicas da diversidade e com o desafio democrático de enfrentamentos no que é do atravessamento ideológico que traz choques inevitáveis e naturais no exercício da democracia.
Nem sempre será possível fugirmos dos embates no movimento, pois os mesmos que defendem a “não partidarização” (que pode sim acontecer em pontos básicos) fogem de lutas quando elas mexem com os interesses de seus líderes cujos partidos de direita podem usar nossas pautas, mas não as atender quando o interesse de classe é prioridade.
Eu tenho um certo consolo e um recorte utópico de união nesta pauta que venho trabalhando: empreendedorismo e foco no Turismo Gay Friendly, por uma capital Lgbt+, Porto Alegre, a que tem maior contingente colorido e pode ser o palco de crescimento que beneficia o nosso estado na área de animação turística.
Tendo o protagonismo da Feira Baile da Diversidade e do Fórum de Empreendedorismo, conto com a parceira do MUT (Miss Universo Trans Brasil) e da Parada de Luta. Quem não estiver nesta trincheira não poderá alegar que nela “tem partidarização”, a não ser imaginária e sectária com as minhas lutas de militante de esquerda, que não se furta em dialogar e agir em tudo que for pelo bem comum de nossa comunidade, não somente a colorida.

Gaio Fontella (Ativista LGBTQIAPN+, Psicólogo e Psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS)




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