top of page
zonanortejornalpoa

Bah! Contos com vinhos sobre vinhos!

Tintos e Contos” é a escrita numa capa que destaca o título e uma garrafa de vinho. Estamos diante de um livro de Athos Ronaldo Miralha da Cunha, de quem já li e comentei “Contos de Chumbo”.

Um livro no qual a cada capítulo se fala de uma cepa e são apreciados: Malbec, Cabernet Sauvignon, Bordô, Pinot Noir, Cabernet Franc, Merlot, Isabel, Tannat, Bordeaux.


Para ler cada qual, não uma garrafa de cada cepa, mas sei que vinho faz a gente ler melhor, ainda mais quando se trata de bons vinhos e bons contos, que é o caso.

Copio parte de uma citação no início do livro: “(...) Si los amantes del vino y del amor van al inferno, vacio debe estar el Paraiso”. - Frase de Omar Khayam.

No primeiro texto, de largada, vem uma frase para “quem se mete a besta” para falar de vinhos: “Produzir vinho é relativamente simples, só os primeiros anos são difíceis”, frase que seria da baronesa de Philippine de Rotshcild.

E o enredo se passa nada menos que em Mendoza. Estamos falando de Malbec. Albano e Marilia para fazer jus à citação de Khayam tem um profundo amor e amam vinhos.


Mas uma derrapagem na neve leva Marília, e Albano amarga a sua falta. E depois de reviravoltas, Albano volta a Mendoza para se curar.

Neste conto, como nos outros, a narrativa vai e parece que não terá nunca o final de tem. Méritos ao autor. Autor de boas surpresas, mas todos bem verossímeis.

No Cabernet Sauvignon, é novamente o grande amor de Paulo Maldonado com Andressa, vem a sua doença, o sofrimento e ela somem para o sempre, até que muito depois, Paulo que usava muito as redes sociais, recebe um pedido de “amizade” no Face, e eis que o recado vem desta Andressa L: “oi querido!”.

Em Bordô, a história é de um amor de 30 anos, pessoas simples como é esta casta de uvas comuns, Waldemar passa no boteco para a compra de massa e de um bordô para com Joaquina festejar as bodas. Mas eis que é atropelado. Tristeza geral. Joaquina antes de ir ao velório junta os filhos, faz a massa, abre o vinho e vão enfrentar uma noite longa juntos, para velar o seu amor.

No Pinot Noir, temos como um caso como O nome da Rosa, muito suspense, tem morte também. Lendo saberás!

O Cabernet Franc é quase a história do filho pródigo, é a volta ás origens, com uma vida escondida, como são as coisas na Serra, pois quem leu José Clemente Pozenatto saberá. Tem morte também.

Merlot nos apresenta as tais das coincidências que sempre acontecem em nossas vidas, logo tirar uma história dos encontros no elevador é gratificante. Tem fortes emoções.

Isabel tem outras coincidências e mais uma morte, a Isabel para quem o narrador vai buscar um buquê de rosas para levar ao seu túmulo no dia seguinte, e isto acontece entre um apreciar e outro do buquê do vinho.

No Tannat, temos algumas boas ironias, um pouco de nossa história ao termos os personagens apreciando vinho ao arrumar túmulo do avô e onde se fez a Paz do Ponche. Na parte final com a chegada da mulher de um deles, a cena é por demais hilária.

No Bordeaux, como não poderia deixar de ser as cenas se passam na França. É a história muito divertida de batedores de carteira e roubo de obras de arte.

Ou seja, nos contos do Athos Ronaldo Miralha da Cunha tem de tudo um pouco, além dos bons vinhos do mais simples Bordô ao sofisticado Bordeux. Temos ironia, picardia, amores, muito amor, perdas, e estas são mostrados como parte de nosso cotidiano e de nossas vidas. Trata o tema da morte como deve ser.

Tem mais, a escrita é sem sobras. As palavras e as frases se encaixam. E como sempre, dou muito valor para personagens que poderiam ser assim na vida real. E elas estão ali.



ADELI SELL é professor, escritor e bacharel em Direito.

8 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page