Saiu pela Mondrongo (2022), da Bahia, o Volume III de "Beba Poesia", do Cláudio Schuster.
Cláudio é de Pelotas, mora há mais de 30 em Florianópolis.
Disse em 2021, quando do lançamento de seu livro de crônicas "Vai dar Merda", que nos dava prazer seu humor e ironias. Aqui, agora, com seus poemas, mais uma vez, este seu lado sarcástico, matreiro, brincalhão com humor e picardia aparece por inteiro.
Falei que suas crônicas curtas eram quase um poema, pela síntese, pela forma de apanhar as palavras e seus sentidos.
Cláudio é jornalista, em cuja profissão não se desperdiçam palavras, nem podem ficar soltas e sem sentido. O labor profissional, com uma boa dose de inspiração, muito corta aqui e arruma ali tenho a convicção é que dão corpo ao seu livro de poesias tão marcante. Estamos diante de um poeta.
Vou indicar em primeiro lugar a leitura dos poemas um a um pela sua ordem; depois, voltar a eles pinçando um aqui e outro acolá, para ler todos mais uma vez. Depois, leiam o belo estudo crítico feito pela poeta Rita Santana que, em 14 páginas, faz um pente fino em tudo o que está nos poemas.
Começo aqui por citar um poema que está na contracapa e não é fortuito estar ali:
não me venha
com seus desinfetantes
tira suas mãos limpas
suas luvas amarelas
de minha mente suja
E vejam a concisão:
sexo
é só uma palavra
como terremoto
foda
traduz o tremor
Concisão e verdade na telha:
paixão
é a mais certa
das alternativas
falsas
Esta coisa nua e crua, jocosa, contrastante é uma constante:
sou legal
meu bem
sou do mal
Vejam:
avisos
luminosos
não
se acenderão
Sempre minúsculas, sem pontos e sem vírgulas. Para quê, se pode ser livre?
Sua poesia pode ser mais longa de quando em quando, mas sempre concisa.
Nada sobrando.
Flui como papo de bar, um bebendo, outro falando, a gente escutando e deglutindo, sim, a gente lê, para, pensa, fica em silêncio à espera para apreender o que se leu.
Mas para que contar mais aqui, se poesia se faz para ler no original?
Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito
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