Luíza Lins se mostra tímida quando fala, diz que está começando. Sim, começa, sem timidez, com um romance neste 2024 - Cadeados - que mostra o início de uma trajetória exitosa com certeza.
Neste romance de estreia, ela mostra em suas 127 páginas uma segura desenvoltura de enredo, sem se perder no secundário, focando sempre nas personagens, no passar do tempo.
A autora parece ter escolhido o transcurso dos tempos para dar um recado mais do que literário, também sociológico, pois passa pela transformação dos costumes de três gerações, pela AIDS e pela COVID.
Imagem: Facebook | Perfil de Luíza Lins Livros
“Cadeados” do título são mais do que os reais cadeados que trancavam a comida para crianças não terem acesso, são também os “cadeados” que escondem o que as personagens não podem contar. É interessante que são alguns fatos marcantes e chocantes do enredo que a autora joga ao leitor para uma reflexão do que teria acontecido. Afinal, era tempo de ditadura, por que duas crianças somem, por que morrem duas outras. Veneno? Suicídio? Assassinato? A Banalidade do Mal estava no ar que se respirava.
Com personagens dilaceradas, massacradas, pela maldade de outras, pela ganância, ela não opta pelo castigo do que “aqui se faz, aqui se paga”, elas têm mortes pouco dignas, mas não passa esta ideia do castigo para os malvados. Porém, ela levanta as personagens que passam por tudo de ruim para serem pessoas éticas, de busca incessante de viver a vida, de aproveitar o ar que respiram.
Chama a atenção que a autora conseguiu focar no Tempo, explorar as mudanças que acontecem, na AIDS e na COVID sem que estes elementos desfocassem o ritmo da obra ou atrapalhassem o enredo.
ADELI SELL é professor, escritor e bacharel em Direito.
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