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Como não falar da Barbie?

Atualizado: 30 de jul. de 2023



Ainda tem gente que arqueia a sobrancelha quando o assunto é o filme da Barbie. Dão aquela arqueada leve, como a dizer “não me deixarei seduzir por nada que seja da cultura de massa, e assistir a um filme da Barbie é demais para mim, os livros de minha biblioteca não suportarão, cometerão suicídio quando souberem”. Me surpreende que haja pessoas que desqualifiquem o filme como se obra de arte não fosse. Se dizem defensores das liberdades artísticas, mas não compreendem – ou não aceitam - que o guarda-chuva da indústria cultural é bem grande, cabe de tudo dentro dele: de Barbie a Cidade de Deus, de Godard a qualquer filme estrelado pelo Adam Sandler fazendo seu papel de bobão.

As constates discussões que o filme vem despertando têm a ver, acima de tudo, com o tipo de recepção crítica que temos hoje. Nenhum filme hoje fica imune a críticas de gênero, raça, etnia etc. Onde está a mulher? Por que este é um filme feito só de pessoas brancas? Acho que aquele indiano ali foi tratado de forma discriminatória. E por que só rosa? Eu, particularmente, depois de tanto tempo com machismo e racismo naturalizados nas telinhas do mundo todo, penso que, embora as críticas possam ser por vezes um pouco tortas, ainda assim elas cumprem o papel de dar à obra o tom social na qual ela está inserida. Isso porque não há nenhuma obra de arte que esteja fora do seu tempo. No entanto, toda e qualquer pessoa que critica sem ter acesso à obra é, antes de tudo, um presunçoso. É necessário ver para criticar. E é necessário saber criticar. Aliás, quer saber? Tenho certeza de que as pessoas que criticam o filme ainda não foram vê-lo, porque de boba a produção não tem nada (apaguei todo um parágrafo para não dar spoilers).

Imagine que loucura se a moda pega e começarem a fazer filmes estereotípicos testosterônicos. Armas, homens fortes e suados, helicópteros, mortes. Homens de regatas, que não mostram seus sentimentos, que desinfetam o buraco do tiro com um ferro incandescente. Que horror!

Vá ver Barbie e seja feliz.


Cristiano Fretta é escritor, professor e músico.

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