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LER, ESCREVER E PUBLICAR

Antes de tudo, o que é ser escritor/a? Qualquer dicionário dirá mais ou menos isso:

Escritor/a é um/a profissional que redija textos e obras literárias (ficcionais) ou de cunho científico, pesquisas, história e correlatos. Sua carreira envolve a elaboração de livros, artigos, críticas, resenhas, crônicas, entre diversos outros gêneros textuais.

Qual sua leitura? Qual sua visão? O que é ser escritor/a?

Ninguém nasce escritor/a. Quem escreve lê antes de escrever. Quem não lê não escreve. Um não leitor ao colocar algo no papel será precário e de duvidoso valor.

Se no Brasil temos tantos/as analfabetos/as, que nem o nome desenham, outros/as tantos/as analfabetos/as funcionais, afora os/as digitais, quem lê de fato?

Muitos que “sabem ler” dizem que não leram qualquer livro no último ano.

Permitam-me fazer esta citação longa, redigida por Cristiano Heredia – fotógrafo e escritor:

“(...) Já são 300 petabytes de dados armazenados, o que torna o Facebook o maior e mais poderoso banco de dados da vida alheia do mundo. Uma espécie de “CRM pós-moderno” (Customer Relationship Management – em português, Gerenciamento de Relacionamento com o Cliente). É claro que a vaidade não é a única mola propulsora desta gigantesca engrenagem. Mas é um dos mais importantes combustíveis que alimenta todo este Sistema. A ponto de muitos criminosos

tornarem-se réus confessos por serem vítimas da sua própria vaidade. Quantas ostentações – outro codinome da vaidade – são diariamente flagradas nas redes sociais? A questão é que a nossa Cultura, de um modo geral, legitima e incentiva todas as manifestações de Vaidade e Ostentação como uma necessidade de autoafirmação. E batiza esse costume com o carinhoso conceito de “Amor Próprio”.

O tema da leitura, da escritura, da publicação tem sido colocado por mim em vários meios, pois acredito que é uma das mais importantes discussões no momento. Com o tal “novo ensino médio”, com tanta gente sem terminá-lo, com tão poucos chegando à Universidade, é preciso repensar muitas coisas.

Quanta gente escreveu de tudo sobre o governo do Inominável. Teses, textos, textinhos, textões. E depois veio de tudo no 8 de janeiro. De um lado e de outro. É claro que a fascistada faz elogios á burrice. Por isso, estes dados alarmantes que o Cristiano Heredia nos apresenta devem ser levados em conta.

Tem gente neste Facebook, o centro de todas as vaidades, que escreve sem nada ler. Nem lê o que seus malucos iguais escrevem, quando muito a manchete ou parte de um vídeo ou áudio. E saem disparando.

Todos tem pressa de falar, de escrever “daquele (seu) jeito”.

Creio que muitos dos que não lêem já sabiam um pouco disso.

Tem gente que começou a escrever no Facebook. Tinham jeito e acabaram publicando. Eu mesmo incentivei alguns e deu certo. Sabem escrever. Tem conteúdo a nos dar. E todo o bom conteúdo deve achar um/a leitor/a.


ERROS ELEMENTARES DE ESCRITA E DADOS ERRÔNEOS

Por melhor que a pessoa possa escrever vai cometer alguns erros. Por isso, antes de publicar, o/a bom/boa autor/a faz a sua revisão, passa seus escritos a um/a bom (boa) revisor/a. Isto é essencial.

E mesmo assim com os corretores automáticos, com nossos teclados malucos, pode sair algum errinho.

Na semana li dois livros que me chamaram a atenção pelos títulos, tratavam de questões de Porto Alegre, tema que pesquiso e estudo. Que decepção!

No primeiro, encontrei erros variados não de escrita, pois a autoria era de uma jornalista. Mas dados históricos errados. No segundo, fui á loucura, porque não havia revisão, o português castigado por todos os cantos.

Alguém que escreve Memórias ou algum texto histórico tem que verificar nomes citados. Imagina citar um prefeito numa data na qual ele nem estava nas lides políticas.

Por isso, achei legal que uma pessoa que prepara um romance histórico, que se passa em Porto Alegre, queria de mim dados sobre o Café Colombo. Quando alguém escreve sobre o passado tem que cuidar para saber qual era o nome daquela via X no ano Y.

Mas trocar “a” por “há” aí não dá mesmo. Perde toda a credibilidade.


AMADURECER

Creio que uma boa ideia é deixar os escritos amadurecerem. Até mesmo um artigo a ser publicado no dia seguinte, se possível, deve permanecer como rascunho uma noite, para uma adequada releitura na manhã seguinte e as necessárias correções.

Sempre soube que os grandes poetas escrevem, reescrevem, jogam fora poemas completos e voltam à dura labuta com a palavra.

Já viram os originais de alguns escritores? O Érico escrevia às margens, riscava, escrevia acima.

No escrever tem uma dose de inspiração, com muito suor, traquejo, arruma daqui e dali para dar forma ao que se quer expressar.

Não vejo com bons olhos publicações de “toque de caixa”. Não estamos postando no LinkedIn, nem gravando um micro vídeo no Tik Tok.


QUANDO E ONDE PUBLICAR

Há poucas grandes editoras no Brasil. Nem se pode imaginar aqui no Rio Grande do Sul uma empresa da era da Livraria e Editora Globo. Nem tenho uma dimensão do que é nos dias atuais uma Companhia das Letras.

O que estas grandes editoras publicam? Grandes autores; em geral alguém já publicado em editora menor, em editora regional, até mesmo um autor que fez sua própria publicação para entrar neste difícil mercado.

Com o quase sumiço das distribuidoras, as coisas se tornam mais difíceis. Em Porto Alegre, temos poucas distribuidoras, sendo que boas editoras não tem distribuição no Rio Grande do Sul. Ficamos nas mãos da Amazon. Hoje, a Estante Virtual cumpre um papel importante, porque muitos sebos dependem dela para vender. E ali achamos muito dos que procuramos.

Há muitas editoras, com louvável trabalho, porém há no mercado editorial um bando de caça-níqueis, que inventam “concursos”, “seleções”, “antologias” ou ficam mandando recados para que mandemos nossos escritos para análise. Vários destes oportunistas cobram “o olho da cara” do autor, não tem distribuição, não tem como ajudar na divulgação, deixando de publicar com editoras locais, de qualidade, podendo rodar em boas gráficas, como temos por aqui.


COMO VENDER?

Como vender, se fecham tantas livrarias? Como vender se muitas têm pouco espaço, muitas vezes ocupados por autores tipo “best seller”, autoajuda e quetais, sem uma estante, um espaço, para “autores/as locais”.

Literatura rio-grandense está no meio da Brasileira e História do Rio Grande do Sul está em História Geral.

Já fui livreiro. Já tive sebo em local minúsculo, mas sempre cuidei de dar destaque adequado para as “cores locais”.

Nós temos anualmente em Porto Alegre, desde 1955,nossa Feira do Livro por duas semanas em espaço público, em pleno Centro Histórico, na Praça da Alfândega. Neste ano, serão 600 autores/as dando autógrafos. Haverá uma banca especial para os autores/as independentes.

Há saraus, lançamentos em botecos e cafés. A Feira do Chalé chega a sua 12ª edição. Foi importante a Feira de três dias dentro do Hospital Conceição.

Há feiras em quase todas as cidades do interior o Estado.

Cresce o número de grupos literários, de academias de todos os tipos.

Temos o “Banco do Livro” que repassa livros usados doados.

Afinal, como estamos, como andamos? As queixas de que lemos pouco é real? Estamos melhorando, começando a ler mais?


E A QUALIDADE?

Em parte já está respondida a questão. Temos problemas com gente escrevendo e publicando qualquer coisa, a começar pelas redes sociais. Há outros problemas de má qualidade saindo por aí.

Mas enquanto se escreve, enquanto se publicam livros, ideias vão surgindo, críticas podem ser feitas, bons autores serão conhecidos.

Logo, é nosso dever debater mais e mais o que se escreve.

Por que sumiram os espaços de críticas e resenhas nas grandes mídias, em especial nos jornais diários e de grande circulação?

Em seu lugar surgiram publicações importantes, como o Matinal e seu Parêntese, Literatura RS, Paranhana Literário.

O Paranhana Literário é um dos melhores exemplos do que se pode fazer pela escrita em nosso país. Surgiu fora da capital, em Igrejinha.

Queria ainda dar destaque aos vários grupos literários que surgiram pelo RS afora.

Tudo indica que a nossa AGES fará um grande encontro de escritores em 2024. Já estamos perfilados para ajudar.

E você, caro/a leitor/a?




Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito.

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