Lançado em 2021, pelo selo Class, da Bestiário, “O Arlequim de Minerva” é anunciado como um romance de Giovani Thadeu.
Romance ou novela? Novela é como José Francisco Botelho trata a obra em sua Apresentação, em estilo carta ao autor.
Acho que muitos vão entender melhor se dissermos que se trata de uma pequena (porque só tem 67 páginas) novela gótica.
Sim, pois o autor usa seus conhecimentos de filosofia, literatura, artes em geral para desenhar o “Frankenstein” de Mary Shelley. No texto, temos reiteradas referências histórico-literárias à autora, outros autores, mostrando o conhecimento de Thadeu acerca da Literatura em geral. O monstro exposto é mal visto, castigado pelas pessoas, o que o leva a se esconder e andar pelos esgotos do velho mundo, para num momento ser surpreendido com um almanaque na cara quando tira a tampa de um destes locais para ver a luz do dia, este fala do Brasil, e ele se mete num porão de navio e vem dar nas terras deste país tropical, bonito por natureza.
Aqui, vira Arlequim, engraçado, se não rouba a “colombina”, rouba a cena toda. Vira preto, com as ervas usadas em seu corpo, processo em que é untado pelos indígenas.
O autor traça momentos de grande empatia com os povos originários, como faz com o Saci Pererê que aparece na Amazônia, sempre muito engraçado.
E aqui, Giovani Thadeu passeia pelo mosaico de nosso país, do Rio de Janeiro, do lado socialite ao Carnaval, do Programa do Chacrinha a uma entrevista na TV (que a personagem não conhecia) com Lucélia Santos. Do programa do Chacrinha, tira momentos incríveis de divertidos e de como éramos bichos-grilos e tolhidos nos anos 70. É como os pedaços do personagem, e o Frankenstein/Arlequim vai tecendo seu mundo, na busca de seu ser, de saber quem é.
Por isso, tem sua viagem ao Olimpo, seu encontro com Minerva, a deusa da sabedoria, que lhe aponta caminhos, mas sem dizer quem ele é, pois ele terá que descobrir.
Como dissemos, tem sua viagem à Amazônia, conhecendo o Santo Daime, contato com as amazonas, pajés, enfim uma experiência surreal, para voltar ao Rio e dali, num diálogo em busca de si, de sua essência, vamos tendo uma apreciação do Carnaval, das obras de Nelson Rodrigues, mais uma experiência com o Santo Daime, sem se desvendar.
Como “confetes ao vento”, volta a ter um diálogo de empatia com sua criadora, Mary Shelley, e some. Uma obra aberta, com possibilidades de retomada do fio condutor.
Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito
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