Na Porto Alegre do final do século XVIII, a Rua Uruguai era um beco transversal à Rua da Praia, que descia ao Porto dos Ferreiros, próximo à margem do Guaíba, nas adjacências da atual Rua Sete de Setembro.
Foi chamado de “Beco dos Ferreiros” e também “Beco da Ópera”, porque o primeiro teatro da capital foi a Casa da Comédia, construída em 1794 no Beco da Ópera, atual Rua Uruguai.
Foi nesta via que o Tuim (bar icônico) de Porto Alegre foi fundado.
Na esquina com a Rua da Praia (Andradas) há um prédio histórico que foi o Hotel La Porta, no Edifício Hermann, por ter loja com este nome.
Na atualidade, com piso de lajotas entre a Rua José Montauri e a Rua dos Andradas, se destaca em seu número 310 o Café À BRASILEIRA, num prédio tombado.
Tive uma conversa com a atual proprietária, Ana Paula Sousa, que ao lado de seu pai, seu Ângelo, uma das figuras mais conhecidas do nosso Mercado Público, me contou muito da história deste café marcante de Porto Alegre.
O café foi fundado nos idos de 1992, onde funcionava uma loja de tecidos da família Barth, antes foi loja de chapéus.
O café começou numa parte desta loja para depois assumir o espaço e, em 99, Ana Paula Sousa assume o comando do local, colocando este espaço no mapa dos bons cafés e nos caminhos da boa mesa da cidade.
Por tempos, foi um local de “tomar cafezinho” e, pasmem, fumar. Ali, se fumava muito, chegando a ter um local especial para os fumantes. O tempo e os hábitos, como as leis, mudam.
Funciona de segundas às sextas-feiras das 7h às 19h e sábados das 8h às 18h. Há o cliente que vem para o seu café da manhã, que hoje em dia pode ser bem variado: café com leite e uma torrada, até um café mais sofisticado com frutas, algo mais elaborado, sendo que os que tiverem preocupações com a saúde, com a balança têm muita coisa fitness. A granola é feita no local. Ou seja, tudo é feito na cozinha do espaço. Tem muitas coisas sem lactose, sem glúten. Na doceria, não tem corantes e produtos deste tipo. Tudo é como deve ser: natural e saudável.
E o almoço não deixa de ser diferente. Tem o trivial, sim. Na atualidade, é um dos poucos locais do Centro em que as pessoas podem comer pratos mais leves, como o Mediterrâneo - um prato top - comidas com baixas calorias e mesmo assim com apurado gosto.
É bom que se fale mais da sua cozinha, pois tudo é feito ali e as receitas são de tradição da família, da mãe, em especial, com as devidas adaptações. Não há produtos industrializados. São todos de qualidade.
Dos doces, como falamos, há aquele tradicional que todos conhecemos como “engorda”, assim como tem os da linha fitness.
Se o prato Mediterrâneo é imbatível na praça, a Ana garante que seu pudim também é imbatível.
O público, nos tempos do cafezinho e do cigarro, era mais um público masculino, mas hoje, é bem eclético e há aqueles que vêm tomar o café da manhã e voltam para o almoço, seguido do expresso bem tirado. Tem um público habitué.
O que se constata é a tradição do passado no presente, lembrando um pouco como era o antigo Café Colombo, na esquina da Rua da Praia com a Ladeira, um local de convivência e de encontros.
A comida em geral, em Porto Alegre, é tida como cara. No À Brasileira, os preços não são de lancheria nem de fast food, pois são comidas mais elaboradas, sem uso de gorduras trans, com produtos de qualidade.
Ana dá o exemplo do seu chantilly, no qual não há nenhuma gordura hidrogenada. Só a batata frita ainda não faz estes milagres. Mas é boa!
A pandemia de Covid e a enchente trouxeram muitas dores de cabeça. Na Covid, pelas mudanças das “ordens” públicas, e na enchente de maio, pelo grande estrago de maquinário, computadores e estoques.
Tudo foi recuperado.
À Brasileira está a mil nestes últimos 25 anos, com a marca que é um grão de café verde e amarelo com a digital da dona.
Ana disse que aquilo que a move na vida é a comida, a boa mesa, o alimento com amor, com marca, com DNA de quem faz porque gosta de fazer.
Por isso, quando teve oportunidade, veio para o comando da operação e ficou.
A queixa da Ana é a mesma de todos com quem temos contato no Centro Histórico: obras demoradas, frequentes consertos sem fim, sujeira, problemas de circulação e pessoas em situação de rua.
Mas como todos que gostam de Porto Alegre, sempre apostamos nas mudanças para melhor.
(Imagens do site Tripadvisor)

ADELI SELL, professor, escritor e bacharel em Direito
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