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A rua mais bonita do mundo

Rua Gonçalo de Carvalho após o temporal de 31 de março de 2025.
Rua Gonçalo de Carvalho após o temporal de 31 de março de 2025.

Quando ouvi esta história há muitos e muitos anos, também achei exagero. A Gonçalo de Carvalho, que vejo da minha janela e por onde já tinha caminhado, é bonita sim, mas não para este exagero gaudério porto-alegrense.

Mas, como tudo o que me intriga, fui pesquisar. E cheguei a um blogueiro português ambientalista que, ao conhecer a história de proteção dos habitantes com as árvores e sua luta pela preservação (o que lhes valeu, na época, o epíteto de vanguarda do atraso), escreveu uma postagem onde dizia que uma rua onde havia esta consciência dos moradores só poderia ser a rua mais bonita do mundo!

Por óbvio, a fama trouxe turistas e a municipalidade entrou na onda. Foram criadas leis de túnel verde e parecia que Porto Alegre era enfim uma cidade inovadora!

Qual o quê. Os anos passaram, as calamidades climáticas anunciadas estão aí e a falta de ação proativa se vê no descuidado com podas feitas por quem entende, chuvas que alagam a toda hora, falta de luz, geradores que deviam funcionar nas bombas de tratamento de água onde nem o alcaide sabe explicar o motivo. Trem para preventivamente e milhares de pessoas fazem fila para aguardar ônibus que, parece, não obedecem a um planejamento estratégico.

Talvez a viagem dos governantes à Holanda ainda seja muito recente. Talvez o hábito de não se consultar cientistas e técnicos locais que vêm se debruçando sobre isso há anos não seja uma alternativa a ser feita.

Enquanto isso, a rua mais bonita do mundo vai sendo tragada no descalabro que reina na ex-Porto Alegre, onde, em vez de soluções inovadoras, apostam em summits e bags de areia como solução de um futuro que parece cada vez mais assustador.



Elenara Stein Leitão é escrevente, pesquisadora e arquiteta


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