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As Velhas


O título - se não é corajoso - é ousado. A autora é uma velha como ela se trata, não diz a idade, mas seus cabelos brancos entregam. Seu nome é Adília Belotti.

Ela é jornalista, blogueira e escritora. À capa, contraponho restrições, pois o título é um adesivo que só vê quem tem lupa. Não é para velhas verem. No mais, um livro supimpa.

São 12 contos. 12 velhas. Todas as histórias têm nomes de mulheres.

Cida, Aparecida, uma espécie de Alter ego da escritora começa o primeiro relato para ser o foco do segundo conto.

Ela começa com a Jo, sua empregada há mais de 50anos. Ajudava-a, era ajudada. Para Jo, Cida era santa, aí vem imagens em sua cabeça, e Cida manda ela consultar o Dr. Raul, entendemos que veio a demência. Na semana seguinte, diria para não mais vir. Não deu tempo, só conseguiu ir em seu velório, pois foi atropelada. Morreu.

Não darei resumo aqui, leiam, por favor. Eu consegui meu exemplar na ISASUL, da Riachuelo, ao lado da Biblioteca Pública.

Uma história vai se ligando a outra. Mulheres nunca imaginadas antes de poderem se encontrar, encontram-se. Basta ser, existir e de preferência sair do casulo.

Circulam velhas de até 100 anos, por sinal a personagem mais marcante, que dá colo a outra velha de 70.

O que dizer dos contos?

Que estão ali as novas velhas, sem trocadilhos, aquelas invisíveis até ontem, mas que hoje dão as caras, a começar nos escritos literários. Aparecem os filhos que não tiveram tempo de entender o que é ser velho, muito menos de entender os pais, em especial de entender suas próprias mães.

São reais, humanas, choram rios de lágrimas, trabalham sem parar, mas também vão a cafés, onde podem morrer tragicamente.

Neste "As velhas", temos uma tessitura de enredos, de vidas, que nos levam a refletir sobre as vidas que levamos. Há aquelas que vão cedo demais, mas há quem vai longe sem ser exauridas pelo Deus Kronos, Senhor dos Tempos.

Livro para jovens lerem para saber que não se poupa o tempo, e para idosos que ainda poderão ganhar com pouco do tempo que resta.

Boa prosa.

Bom para todos e todas. Melhor para as velhas. Talvez para Os velhos também.


Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito




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