CADERNO DE RASCUNHOS
- zonanortejornalpoa
- 15 de mai.
- 2 min de leitura
“Cadernos de rascunhos e outras crônicas” de Luciana Konradt, pela Cinco Gatas Editora, saiu em 2023.
A pelotense Luciana Konradt mora em Porto Alegre, é formada em Jornalismo e Direito. Atua na área do Direito. Ela participa de vários livros de coletâneas e tem os seus também. Entre eles li com prazer as suas crônicas neste “Cadernos de Rascunhos”.

Na Apresentação, a autora mostra o que é uma crônica. Assim como a autora, sou adepto deste gênero literário. Ela fala em narrativa leve; no caso dela, todas as crônicas são, de fato, leves, concisas, nada sobrando.
Crônica, concordando com a autora, “não significa que é um texto raso ou destituído de conteúdo relevante”.
“Sítio arqueológico” dos fatos, das ideias e dos costumes de uma época pode ser e certamente é crônica. Esta definição é tudo para ser crônica de verdade. Descobri isto lendo Coruja, Aquiles Porto Alegre, Theodemiro Tostes, Paulo de Gouvea, Archymedes Fortini. Este, de modo especial, pois consegui fazer uma coletânea de seus quatro livros, extraindo deles o que tem um valor imenso nos dias atuais para quem quiser saber como foi a Porto Alegre dos primeiros 50 anos do século XX.
Luciana Konradt anda, circula, fala de temas atuais com uma opinião que emoldura e enfeixa o texto com profundidade filosófica e política. E, além disso, traz volta e meia o tema do Tempo. A sua crônica “Sêneca e o Tempo” é a primeira amostra de como a autora vê a “brevidade da vida”, a solidão e a morte. Dali em diante, ela vai tratando da nossa relação com o tempo, como a lições epistolares de Sêneca ao jovem Lucílio. Esta reflexão sobre o tempo em que se vive faz a autora nos trazer a IA – Inteligência Artificial – a urgência climática, o genocídio yanomami, a vacina, a covid, os atos tresloucados nos quartéis etc. para a cena, assim, no futuro, certamente isto será “o sítio arqueológico” para nos conhecer mais e melhor.
Mais uma vez, ao tratar da infância presente em nós, a autora traz o tempo para se pensar. E pensar é essencial para se viver.
Luciana em várias crônicas reflete sobre a escrita, o ato de escrever, sobre a cultura. Tanto é que pensou em escrever sobre um tema, muda porque algo mais urgente acaba de acontecer.
São 27 crônicas curtas e leves. De profundidade esmerada com as lições que traz da filosofia e do pensamento crítico.
A maior parte delas foi orginalmente publicada no Jornal Diário Popular de Pelotas, o que vem a confirmar a importância do meio pelo qual a crônica se expressa, que é o jornal impresso do cotidiano de um local. Mas nem por isso, pela falta deste meio físico especial, se pode dizer que não haja lugar para a boa crônica, como é o caso deste livro, que deveria ser adotado para estudos em sala de aula. Creio que a autora vai concordar que estar em blogs, sites, revistas online é uma saída para divulgar a crônica.
Copiando o velho Pasquim, que dizia que “a poesia é necessária”, diria que, mais do que nunca, “a crônica é necessária”.

Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito
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