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Perseguir o horizonte nos faz continuar caminhando



Em 1995, foi comemorado pela 1ª vez o dia 2 de julho como o Dia Internacional das Cooperativas, marcando o centenário da Aliança Cooperativa Internacional.

As cooperativas surgiram como alternativa no combate às iniquidades humanas em sua nascente, visto que visavam substituir o modelo exploratório do trabalho pela cooperação e coletividade. Nesse contexto, a autogestão foi entendida como a administração coletiva dos interesses comuns.

Esse modelo tem inspirado pessoas ao redor do mundo, sendo responsável por mais de três milhões de empreendimentos em atividade no planeta e a aderência de ao menos um em cada oito seres humanos. Com isso, alcançou a cifra de 2,14 bilhões de dólares movimentados em um ano pelas 300 maiores cooperativas do mundo, o que equivaleria à oitava economia mundial.

Contudo, em que pesem os avanços significativos ao longo do tempo, ainda temos um grande caminho para percorrer a fim de que os empreendimentos solidários representem uma parcela mais abrangente da sociedade e em termos numéricos assim como em termos simbólicos.

Nesse sentido, é possível verificar que o universo cooperativista compõe fração residual da atividade laboral humana, o que é ainda mais crítico em nosso país:

Conforme o Banco Mundial, as populações economicamente ativas no mundo e no Brasil correspondem a 3.387 bilhões e 99.843 milhões de pessoas, respectivamente. No entanto, segundo a Aliança Cooperativa Internacional, o modelo cooperativo no planeta responde por apenas 8% desse total. Já no Brasil, o anuário do cooperativismo brasileiro revela que as cooperativas são responsáveis por meros 0,4% do total de postos de trabalho.

Para fins de comparação, no estado do Rio Grande do Sul, contamos com mais de 1 milhão e duzentas mil empresas, dentre as quais, 600 mil microempresas individuais e apenas 50 cooperativas de trabalho.

Muito embora seja possível contextualizar estas informações de diferentes maneiras, é notório o fato de que o cooperativismo carece de penetração e capilaridade no seio da sociedade.

Em paralelo, vivemos um período de liquidez das relações interpessoais e de hiperconsumo em busca da felicidade efêmera. Não por acaso, se observa um aumento vertiginoso nos casos de patologias mentais e no consumo de psicofármacos. Soma-se a isso o crescimento exponencial de todos os tipos de desigualdade social, da pobreza, da fome e demais manifestações oriundas da forma desequilibrada com que vivemos.

Aqui, se assenta a potencialidade da vida cooperativa, pois alia o desenvolvimento econômico e social à conscientização dos indivíduos para a superação do cotidiano. Em outras palavras, o modelo possui a coerência democrática para mediar a emancipação civilizatória e a construção da cidadania nas comunidades.

Vale salientar que este mecanismo possui forte ancoragem social à medida que cria competências relacionais e laços de confiança entre seus membros, de modo a cultivar vínculos entre si e com a comunidade na qual está inserido. Desse modo, difere do modelo individualista reinante nos dias atuais.

Para fazer o modelo prosperar ainda mais, se faz fundamental que os temas do cooperativismo, autogestão e economia solidária possam alcançar abordagem transversal, desde as políticas de educação básica e fundamental até a formação profissional propriamente dita. É necessário também construir melhores condições de popularização e conscientização acerca dos princípios, práticas e as vantagens deste modo de vida.

Para atingir esse objetivo, pode ser muito útil o desenvolvimento de um think tank que não apenas permita a integração dos mais diversos empreendimentos solidários de forma estratégica, mas que também disponha de repositório de conteúdo e funcione como motor indutor do desenvolvimento de inovações tecnológicas e aprimoramento conjunto dos atores e redes do cooperativismo solidário. Vale salientar que este tipo de instituto abriria ainda mais espaço para a pauta e a disputa do debate público a partir da produção de estudos e conhecimentos, influenciando-o assim por meio do convencimento.

A Economia Solidária precisa enfrentar de forma definitiva o desafio de consolidar a cultura da solidariedade e da colaboração na sociedade. Para tanto, deverá lançar mão de todas as estratégias, ferramentas e conhecimentos à disposição, pois deste modo poderá lograr êxito enquanto divisor de águas da jornada humana na Terra.


Marcelo Rafael Petry é Biomédico e Consultor Ambiental, Especialista em Cooperativismo

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1 comentario


Obrigado ao Zona Norte Jornal pelo espaço! O cooperativismo agradece!!

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