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Pitacos da semana

Meu amigo paulista

Resolvi, durante essa semana, atender às chamadas de todos os números que me ligam de São Paulo. Dada a insistência com que me ligam de Suzano (um munício grudado em São Bernardo do Campo), pensei que talvez eu pudesse ter esquecido de pagar algum boleto. Toda vez que atendo, a ligação cai. Eu penso seriamente em tirar um dia da semana somente para ligar para números aleatórios de Suzano e desligar assim que alguém atender. Sim, eu sei que é um robô me ligando. Eu também bloqueio os números, mas sempre aparecem outros me ligando, também de Suzano. Pensei em escrever uma crônica sobre essa cidade que tanto me liga, mas desisti. Simplesmente não consigo ter nenhuma vontade de pesquisar coisas sobre Suzano, que me parece ser mais uma cidade cinza, com uma rua que junta todo o comércio de venda de eletrodomésticos e em que pessoas comuns caminham. Nada contra quem mora Suzano. Eu, inclusive, até tenho amigos que moram lá. Mentira, não tenho não. Olhei agora pelo Google Earth um mapa da cidade e fiquei imaginando que tipo de conexão (ou não conexão) entre pessoas se constrói quando um algoritmo em algum lugar dessa cidade chama o meu celular e faz com que eu tenha que adiar a troca de fraldas da minha filha. A semana termina hoje, sexta-feira. A partir de amanhã não atenderei mais às ligações. Espero não sentir falta das ligações do Suzanito, nome que eu apelidei o robozinho que fica me ligando.


O velho galo

Olívio Dutra vai concorrer ao Senado. Independentemente de posição ideológica, Olívio é um mito vivo. Por sua história, por suas múltiplas funções, por seu bigode. Eu o encontrava, desde criança, na zona norte. Ele mora até hoje no mesmo local, um prédio muito conhecido no bairro São João, próximo ao Bourbon Assis Brasil. Certa vez, eu o encontrei na fila do cacetinho, bem à minha frente. Pensei em puxar a assunto, mas eu tinha uns 15 anos, a timidez adolescente ainda se impunha. Anos mais tarde, já na faculdade, eu o vi mexendo em uns balaios na Feira do Livro, acompanhado de sua Judite. Dessa vez, deixei a insegurança de lado e mandei um “como tu está, governador?”. Ficamos conversando por uns 10 minutos sobre livros. Eu mal podia acreditar. Ele não estava em campanha. Eu era um mero estudante de letras. Ele era o Olívio Dutra e se despediu dizendo que iria voltar à UFRGS, para estudar latim. De fato, no ano seguinte eu o encontraria pelos corredores da Faculdade de Letras. Mesmo assim não foi sem surpresa que eu o vi pela primeira vez no ônibus, no final de um turno da tarde. Infelizmente nunca consegui um lugar vago a seu lado. Espero até hoje ter essa oportunidade. Sentar ao seu lado e charlear. Velho galo missioneiro!


Mau gosto

Volodymyr Zelensky e sua esposa Olena Zelenska fizeram um ensaio para a revista de moda Vogue. Como se não bastasse o momento inoportuno para um ensaio estético – visto que o seu país está em guerra e ele é, enfim, o presidente! – o casal utilizou como cenário locais devastados pela guerra. Em uma das fotos, Olena aparece em frente aos destroços do Antonov-225, maior avião do mundo, destruído por um ataque russo. Ao fundo, dois soldados austeros. Em outra, ela está sentada nas escadarias daquilo que parece ser um local oficial do governo ucraniano. Ao fundo, mais um soldado. À sua esquerda, uma imensa barricada. Desde a Guerra do Golfo e do 11 de setembro, não há tragédia que não vire espetacularização midiática. No entanto, a promoção que setores da sociedade ocidental estão dando ao casal beira as raias do ridículo. Como diria o pensador Guy Debord, "o espetáculo não é uma coleção de imagens, mas uma relação social entre as pessoas, mediada por imagens."


Eles, os ataques

O site Estado de Direito Sempre! já sofreu mais de 1500 tentativas de ataques hackers desde a última terça-feira (26). Era esperado, já que o texto defende os pilares da democracia. O documento remete aos 45 anos da “Carta aos Brasileiros”, documento lido na Faculdade de Direito da USP em 1977 e que foi um marco da luta da sociedade civil contra a Ditadura. Haverá um dia em que precisaremos estudar o fato de a internet, por meio das milícias digitais, ter sido a precursora dos golpes. É como se as coisas fossem cozinhadas no meio digital para depois terem suas consequências no mundo real. Hoje não se defende a democracia desconectado, essa é a verdade.


Aliás

Será que vai ter inverno?



Cristiano Fretta é escritor, professor e músico.

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