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SOBRE A RUA E OUTROS LUGARES

Um livro publicado há 35 anos pelo Arquivo Histórico do RS e pela Caixa Econômica Federal chamou minha atenção por falar de ruas e ouros lugares, na medida em que estudo o nome das ruas de nossa capital.

“Sobre a Rua e outros lugares - Reinventando Porto Alegre” foi organizado por Acácia Maira Maduro Hagen e Paul Roberto Staudt Moreira, ainda teve um conjunto de palestras sobre as temáticas postas.

O livro vai tratando de temas como o casamento ou amasiamento, como era a vida conjugal dos populares porto-alegrenses; a mulher e família na virada do século: o discurso d’A Federação, jornal do Partido Republicano Rio-Grandense. Um capitulo chamado “E a rua não é do Rei - morcegos (dito pejorativo a policiais) e populares no inicio do policiamento urbano em Porto Alegre - Século XIX”; “Policiamento em Porto Alegre nos primórdios de República”; “Os Anos Dourados de Porto Alegre: a construção do mito da Idade do Ouro na Memória da Cidade” e “Anos de Ferro”: intelectuais e decadência no início do século (XX)”.

A obra e as palestras foram para comemorar os 120 anos da CEF. Os organizadores tiveram a ideia de girar os ponteiros do tempo no sentido inverso, para poder captar as vivências, as atitudes vigentes no passado tratado.

Os textos citados não foram escritores para esta publicação, foram escolhidos a partir de estudos acadêmicos e publicação de teses. Diga-se de passagem foi uma grande ideia dos organizadores do livro e pela Susana Frölich pela CEF, organizadora dos debates, pois assim as ideias puderam ser acessadas por leitores de então (1995) e até hoje quem encontrar o mesmo num sebo como foi o meu caso. São raros os exemplares.

Seria agora um bom momento de uma revisita a estes temas para ver o processo de “Reinvenção da Porto Alegre" como é a chamada do título.

As classes sociais, as pessoas, os grupos sociais buscam sempre uma saída para cada tempo de suas vivências, como se fica sabendo pela forma conjugal, através do processo de se amasiar no passado. A autora não toca no tema dos custos cartoriais e outros entraves para o casamento formal, mas seria outra abordagem a ser vista.

É impressionante como um jornal dito progressista, vanguarda da República, A Federação, trata a mulher, como do lar, cuidadora da família, dos filhos, não podendo trabalhar, pois poderia macular esta mesma família, numa concepção do positivismo comtiano. Uma mulher recatada.

Dois capítulos tratam das polícias, a dificuldade de ter uma força policial, quando os policiais eram mal pagos, sem capacitação, causando inúmeros problemas, amedrontado a população como uma espécie de “escória armada” da sociedade. De “morcegos” a “ratos brancos” eram visto pejorativamente, mesmo quando de seu início de processo de profissionalização. Tempos depois, na ditadura, os brigadianos eram chamados de “é de porco”.

Dos “Anos Dourados” se pode apre (e)nder que foram gloriosos para alguns, porém nem tanto para pessoas de outros estratos sociais nos mesmos tempos. É claro que o texto não nega processo de evolução da cidade. As citações de alguns textos é muito elucidativo para compreender aqueles tempos.

Já no artigo “Anos de Ferro” se vê como as autoridades, especialmente cronistas de outro Jornal, O Independente, tratam as classes subalternas, com as piores qualificações, como culpam as castas superiores por nada fazerem contra o esgarçamento social.  Quando o autor cita certas ruas e becos fica claro que isto deu vazão às autoridades fazer o processo de higienização da cidade, em especial no Centro, onde surgiam nos anos 1910 as construções de caráter positivista, tão próximas de “becos perigosos” como o ”Beco da Fanha” (atual Rua Caldas Junior), “Beco do Poço” (atual Jerônimo Coelho). O mesmo se pode dizer do “Beco do Oitavo” citado nos capítulos sobre os policiais, fazendo com que os governos pudessem fazer o que fizeram, ou seja, uma limpa geral nos casebres e jogando seus habitantes para as periferias.

Este tema não é tratado diretamente nos textos, mas quem estuda a cidade começa a se dar conta do processo ideológico via jornais, como os dois citados, e no caso dos policiais o mais atuante foi “A Gazetinha”.

Bem que os gestores das áreas da cultura poderiam buscar estes autores para uma reflexão trinta anos depois.



ADELI SELL é professor, escritor e bacharel em Direito.

 

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